terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Novo som de Salvador

Os Mensageiros do vento preparam um novo programa para a Webradio Ilha!

Confira o programa 02!!









Clique para fazer o download do arquivo!
(Tamanho: 16 Mb / Duração: 23 minutos)



Agradecemos imensamente a colaboração dos Mensageiros do vento e desejamos um ótimo 2010 para toda cidade de Salvador que estão nos apoiando nessa iniciativa.

Em breve faremos matéria especial para o programa dos Mensageiros do vento!

Equipe WebRadio Ilha

Destemido Walace

Feliz por ter um sonho nobre.
Por Letícia Amorim.

Sexta-feira, dia 18 de dezembro, foi um dia marcante para mim, porque trouxe de volta a minha esperança empoeirada. Neste dia percebi que ainda existe quem acredita em seus sonhos. Mas eles não cruzam os braços e esperam cair dos céus porque acreditam em si próprios. A entrevista que irão assistir, tenho fé, que servirá como lição. As histórias de superação, amor, entrega e trabalho em equipe evidenciam que eles prezam por bons princípios. E quem irá dizer que não é um principio importante ter respeito aos seus sonhos?
Os nossos destemidos, nesta declaração de amor, nos ensinam a importância de se permitir escutar o próximo para evitar uma frustração futura, de ser justo mesmo sabendo que nem sempre serão com você, de Amar aquilo que faz e de ser verdadeiro com você mesmo.
E assim, aos poucos, cicatrizaram as minhas feridas. Toda a sujeira que ficou, todo o medo que restou e tudo aquilo que fizeram, um dia, de ruim pra mim, desapareceu nas mãos de um bom gari. Porque “se eu caio me levanto, eu tô aqui pra isso mesmo, viver a vida ate o fim.”


Conheça mais a banda MySpace
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este é um blog de apoio da WEBRADIO ILHA

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Carinha da Gaita

Vivendo a vitória

Por Flavio Valente

Tempos atrás, encontrei Carinha na Praia da Bica. Na época ele já era um gaitista conhecido no cenário do blues carioca. A novidade é que tinha entrado para uma igreja. Estava com aquele misto de deslumbramento da revelação recente com euforia evangelizadora. De repente, declarou: - Eu quero entrar no céu pra tocar gaita com os anjos. – Eu, cinicamente, provoquei: - Mas o blues não é a música do diabo? – Ele discordou sem se abalar e continuou a testemunhar sua felicidade com aquele sorriso confiante dele.
Fernando Louzada, o Carinha da Gaita, começou a tocar flauta de pã ainda garoto. Depois de exercer várias atividades, como vendedor, representante comercial e de trocar a flauta de pã pela gaita diatônica, estabeleceu-se como padeiro com entrega em domicílio. Quem, na Ilha do Governador, não conhece a vinheta na gaita e o “Olha o padeiro! Olha o padeiro!”, do carro que atravessa as tardes deste acidente geográfico?
Na entrevista em que apresenta seu mais recente trabalho, Carinha fala do envolvimento com drogas, dos nove anos que ficou sem tocar, do retorno, de religião e de blues, que, como ele reafirma de forma bastante convincente, pode ser a música de Deus.

Assista ao video da entrevista abaixo.

Breve Link alternativo como opção caso o video acima não funcione.


Edição: Leticia Amorim
Este é um blog da Webrádio Ilha.
Ouça a rádio AQUI

terça-feira, 24 de novembro de 2009

A verdade é que só a música faz

Por Odete Marques e Letícia Amorim
Fotos de Felipe Hellmeister

Olivia traz consigo a transparência de ser e fazer música traduzindo a sua verdade. Por isso é tão eclética e profunda. O fascínio de ser e mostrar o quem é, sem dúvida, é uma das características desta mulher, produtora, técnica de áudio, musicista e cantora que encanta e desperta os sentidos com sua voz suave e marcante, ritmos contagiantes, misturas bem feitas e a sua sinceridade cativante.
O cd “Só a música faz” é o terceiro CD autoral
de Olívia mas o sexto da sua discografia, confirmando a expectativa de que alguns artistas conseguem manter-se vivos e fazer música de boa qualidade, sem se render aos modismos e sucessos fabricados. Só a música faz é a artista em seu compromisso firmado com sua própria estética musical e nos traz neste belo registro compositores pouco conhecidos do grande público como: Ligia Kas, José Luiz Marmou, Monalisa Lins e a própria cantora, que abriu mão de regravar compositores consagrados da nossa música.

Produzido e arranjado pela artista, com linguagem moderna, marcado pela mistura de estilos e tendências, seu novo trabalho apresenta uma sonoridade tão singular quanto sua voz. Em Só a música faz Olivia caminha por baladas, folk e rock, passeando também por ritmos brasileiros.

Para melhor compreender tudo o que foi dito, nada melhor que o som e as melodias, transformando as palavras sobre Olívia em realidade, tão verdadeira quanto os cinco sentidos que serão estimulados ao ouvir a canção do mesmo nome que o cd: “Só a música faz”. Prepare-se!

WEBRÁDIO ILHA - Pelo que podemos perceber sua família é bastante musical. Creio que isso tenha facilitado no seu desenvolver como musicista, que começou muito cedo. Mas quando começou na música já tinha um objetivo, ou foi apenas deixando fluir? Quando percebeu o que realmente desejava na música?

Olivia - Desde os 5 anos, quando comecei a estudar música, já sentia uma "fome" musical, de conhecimento, aprofundamento, vontade de estar envolvida pela música, compor e tocar. Aos 12 anos, quando já tocava e compunha ao piano, comecei a ter vontade de estudar canto também. O interessante é que sempre ouvi de tudo, de música erudita a rock pesado, e sempre senti afinidade com a música como um todo, não apenas com um estilo musical. Sempre soube que desejava viver da música, mas nunca no sentido da fama, apenas da música.

WRI - Com o passar do tempo você modificou o seu trabalho, ou sempre buscou manter a mesma linha?

Olivia - Meu trabalho é resultado de tudo o que absorvi na minha formação e continuo absorvendo, vivemos num país muito musical, isso é lindo. Por conta disso minha música é eclética como eu, cheia de influências, e os meus seis CDs são ecléticos também. Jazz, rock, folk, música oriental, erudita, bossa, pop, meu trabalho tem traços de todos estes estilos. Não busco a mesma linha, busco a minha verdade musical daquele momento. Acredito que para tocar as pessoas você deve ser verdadeiro naquilo que faz e não fabricar um produto de acordo com modismos e imposições da mídia.

WRI - Para você quais são os pré-requisitos que um músico precisa ter para desempenhar bem o seu papel?

Olivia - Para mim é a verdade que falei acima. Estudar música é importante para aquele que gosta e possui a vontade musical e o amor à música em seu interior. Não adianta ter instrução e não ter amor. E o inverso também não desenvolve o suficiente pois acabam faltando ferramentas para um bom desempenho.

WRI - Quando você seleciona um músico para integrar um trabalho seu, você preza mais apenas pela qualidade e competência ou prefere analisar também o caráter e o zelo pelo bom convívio?

Olivia - Acho que é um conjunto, é todo o pacote, rs. Acredito que somos atraídos e atraímos pessoas que vibram numa mesma sintonia, como um "dial" de rádio. Musicalmente acho importante que o músico que toque comigo traga sua bagagem própria, seu estilo que venha a enriquecer o trabalho. Sempre dou espaço aos músicos para que eles se sintam bem ao tocar minha música, para que eles coloquem a sua verdade.

WRI - Como mulher, já se sentiu vítima de preconceito por ser musicista?

Olivia - Não por ser musicista, mas SIM por ser produtora musical e técnica de áudio. Essas duas atividades sempre foram quase que exclusivamente masculinas, e hoje temos algumas mulheres nessas funções. Mesmo assim já passei situações até cômicas, em que as pessoas não se dirigiam a mim, e sim a um interlocutor masculino (no caso, meu assistente no trabalho), para falar sobre uma produção ou gravação.

WRI - Quando você assiste um show, o que mais te chama atenção no artista?

Olivia - A capacidade que o artista tem de se envolver na música a ponto de se transformar naquilo que faz. Quando o artista deixa de ser um "ego" e passa a ser um instrumento vivo para a música!

WRI - O que você não atura no mundo da música?

Olivia - Me incomoda a falsidade no geral, em todos os aspectos. As coisas que são produzidas apenas para vender, por exemplo, ou artistas que são "treinados" para copiar ou imitar outro...enfim, a falta de respeito à música me incomoda.

WRI - O que mais te fascina e o que mais se assombra na música?

Olivia - O que me fascina a capacidade de criação, quando ouço aquela música que parece mágica e simplesmente nos faz parar o que estivermos fazendo para apreciar, isto sempre me fascinou. Nada me assombra na música, acho que vivemos um período de informação demais e critério de menos, isso causa uma vacina anti-assombro, rs

WRI - Apesar de se mostrar como uma cantora eclética, percebo uma forte inclinação para o jazz, isso é verdade? O que te faz apreciar este estilo? Como você vê o cenário brasileiro em relação ao jazz?

Olivia - O jazz me conquistou há muito tempo, com Sarah Vaughan e Ella Fitzgerald, Duke Ellington, Oscar Peterson, Nina Simone, entre outros. A liberdade que o músico de jazz exercita de se expressar e se entregar à música, ousando dissonâncias em seus solos, é contagiante.
O Brasil (e acredito que o resto do mundo também) tem um público para o jazz. Os amantes do jazz são fiéis e restritos, são ouvidos aguçados e curiosos para a música em geral. Mas isso não impediu que o jazz influenciasse uma série de estilos populares e se fizesse presente no cotidiano de todos.

WRI - Vamos falar agora sobre a estrutura das casas de shows pelo Brasil a fora. Podia nos contar um pouco sobre isso? Em quais Estados do Brasil você observou uma melhor estrutura e quais não apresenta?

Olivia - São Paulo e Rio de Janeiro são os estados que sempre tiveram as grandes gravadoras e isso fez com que boas casas de show se estabelecessem por um período de tempo nesses lugares. Porém hoje não é mais assim, e o Brasil assumiu ser um país musical, investindo nas casas de espetáculo e locais voltados para a música. O único porém é que essas casas são sempre grandes, voltadas para o grande público, que inevitavelmente é o que está sendo trabalhado pela grande mídia.
Faltam casas médias, para os artistas que têm público e carreira estabelecidos, mas não conseguem encher uma grande casa por não ter acesso à grandes meios de divulgação. Existem muitos lugares pequenos, sem equipamentos adequados que estão suprindo esse mercado, mas nós, músicos independentes, saímos perdendo com isso, muitas vezes tendo que nos sujeitar a tocar em lugares que não possuem nem palco, nem equipamento básico e muito menos tratamento acústico no ambiente.

WRI - Em que local ainda não se apresentou e adoraria fazê-lo?

Olivia - Gostaria de fazer uma turnê pelo Brasil e ainda não fiz.

WRI - Como foi seu inicio de carreira? Qual foi a maior dificuldade que teve que enfrentar? Alguma vez já pensou em desistir?

Olivia - Iniciei minha carreira cantando em pequenas casas de jazz e mpb em São Paulo, e foram alguns anos cantando na noite antes de gravar meu primeiro CD. Isso foi muito bom para ganhar experiência e confiança no palco. Quando lancei meu primeiro CD em 2000 já tinha experiência suficiente para lidar com as situações adversas que o músico enfrenta no Brasil.
Nunca pensei em desistir, pelo contrário, cada vez mais fui me aprofundando e me dedicando à vida musical.

WRI - Como construiu a identidade do seu som? Antes se gravar um cd era muito mais complicado, hoje vender um álbum é mais difícil. Como a tecnologia auxiliou em sua carreira? Você acredita que antes desta guinada tecnológica, fazer música era mais difícil?

Olivia - Fazer música, para o músico, sempre foi fazer música, com ou sem tecnologia. O que aconteceu é que a partir do avanço tecnológico, nós conseguimos realizar o produto final com qualidade (CD). O que antes era restrito a quem tinha apoio financeiro de gravadoras, pois custear um estúdio de gravação era muito caro. O problema é confundir as coisas. Hoje com uma câmera digital e um photoshop todo mundo é fotógrafo...será? A mesma coisa com a música, com um Pro Tools, efeitos e um microfone todo mundo faz música...acho que não, nenhum dos dois casos.
Hoje ficamos sem critério, a qualidade da gravação é ótima e o conteúdo deixa a desejar. Como em todas as áreas o avanço tecnológico foi bárbaro, mas tem o lado negativo. Para mim foi maravilhoso, eu tenho estúdio digital desde 1993 e posso dizer que graças ao fato de ser técnica de áudio e produtora musical hoje minha discografia conta com seis títulos. Para mim a tecnologia é ferramenta de trabalho, mas não realiza milagres.

WRI - Como se dá o processo de composição? Com que idade fez a sua primeira composição? Ela está em algum dos seus álbuns?

Olivia - Fiz minhas primeiras composições com 12 anos, para piano. Uma dessas primeiras sofreu algumas adaptações e se tornou "conchas do mar" presente no meu segundo CD, "Perto". Lancei meu primeiro CD pela gravadora Trama, de onde saí em 2001.

WRI - A produção do clipe "Barco" foi muito bem feita. Como se deu este processo?

Olivia - O clipe "O Barco" teve produção da Academia de filmes, com direção da Ligia Barbosa. O clip foi custeado pela gravadora, gravado na cidade de Guararema (SP) em quatro locações diferentes. A equipe contava com 40 pessoas, grua, ventiladores gigantes, o figurino foi do Lino Vilaventura. A gravação foi feita no período de um dia, das 05 às 19h. A edição me chama atenção especial, foi muito bem feita e a telecinagem também, é um clipe realmente muito bonito.

WRI - Você consegue viver apenas de sua arte? (pergunta clichê do web radio ilha rsrs)

Olivia - É uma ótima pergunta, rs. Eu consigo sobreviver, mas ainda tenho como meta viver da minha arte.

WRI - De onde vem a sua inspiração para compor?

Olivia - De tudo o que me cerca, a vida, o amor, a natureza, as pessoas, as relações entre elas. Tudo o que é real e verdadeiro em minha mente.

WRI - Apesar de ter lançado 6 álbuns, esta no seu terceiro álbum autoral. Houve alguma dificuldade de lançar álbuns autorais? Você optou espontaneamente por gravar álbuns de interprete? Como fez esta seleção de músicas de outros autores?

Olivia - Meus dois primeiros CDs foram autorais (Olivia e Perto). As pessoas falavam muito sobre eu não cantar músicas de outros compositores, e eu nunca tive isso como uma regra, ou um ideal. Simplesmente ainda não havia pensado nisso, mas comecei a pensar, e tive a idéia de gravar um CD de intérprete, mas com arranjos e versões particulares, da minha visão musical. E essa idéia resultou no Projeto Jazzy Stuff!, formado por dois volumes (2por2 e 12), que foram responsáveis pela divulgação de meu trabalho no exterior.
O projeto Jazzy Stuff! consiste de músicas que marcaram minha bagagem musical, músicas que gosto muito, com arranjos que fiz para soarem "enjazzadas", com um molho diferente. Achei que essa sonoridade me permitiria unir músicas de estilos muito diferentes. E consegui uma sonoridade acústica, optei por não usar nos arranjos bateria e instrumentos de percussão tradicionais, o que resultou numa sonoridade diferente.

WRI - Você aceita músicas de compositores desconhecidos? Como você entra em contato com esses compositores"desconhecidos"?

Olivia - Eu gosto da música pela música, não por quem a escreveu ou compôs. Quando uma música me toca, eu tenho vontade de produzi-la. Agradeço sempre a esses compositores que entregam suas obras a mim, confiando e me dando liberdade total para arranjar e produzir da maneira que eu achar melhor.

WRI - O que te chama atenção para selecionar uma música ou outra?

Olivia - A melodia para mim é o carro chefe. Uma melodia pode sustentar uma música apenas num sopro, num assobio. A melodia tem um poder mágico de se propagar como o ar, melodia é a música nua.

WRI - “E você, meu amor, não vem?” a terceira faixa do seu cd "Só a música faz..." foi uma composição feita em parceria com Paulo Preto. Como foi feita esta composição?

Olivia - Eu e o Preto somos parceiros desde o meu primeiro CD. As letras dele me conquistam, acho que ele tem um talento impressionante para unir o cotidiano e a natureza, como se fossem uma coisa só. No caso de "E você, meu amor, não vem?" achei algumas frases soltas num papel, sentei ao piano e já me veio à mente uma melodia (normalmente é assim, rs). Então comecei a escrever também sobre o tema melódico, e logo a música já estava com letra e forma...

WRI - Como se deu a escolha da música "carro chefe" do cd que tem o mesmo nome: "Só a música faz"?

Olivia - Essa foi a primeira música do repertório desse CD que eu fiz. Desde 2004 ela estava lá, esperando para ser arranjada. Cheguei a produzir algumas versões antes dessa versão final, mas quando comecei a produzir o novo CD a linguagem estética começou a ficar bem clara, aí fui criando uma versão para ela, escrevi a linha do violino e convidei o Luís Dutra para gravar, e depois os outros instrumentistas. Essa música é uma homenagem a todos aqueles ,que como eu, sentem a música com seus cinco sentidos, e amam a música e sua capacidade de transformar, renascer, e resistir ao tempo como se tudo isso fosse simples...Só a música faz.

WRI - Você poderia falar um pouco sobre o que fala a música "Mistérios"?

Olivia - Mistery é uma música que comecei a compor em inglês, "pensando" em inglês, e deixei fluir. Ela não é uma música religiosa, mas fala do sentido mais puro da crença, daquilo que acreditamos sem ver, daquilo que sabemos existir sem ter provas disso, do invisível, do que questionamos, os sentidos das coisas,...os assuntos são profundos, rs, mas é uma música leve, que é para tirar um pouco os pés do chão.

WRI - Qual a música que não pode faltar em seus shows?

Olivia - Ah, meus shows são muito ecléticos, o amor e a música é o que não pode faltar!
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LEMBRAMOS QUE a artista fará um show no dia 12 de dezembro de 2009, no Teatro da Vila, em São Paulo, as 21h. O ingresso antecipado custa 12 reais.
O endereço é Rua Jericó, 256, Vila Madalena

Conheça mais sobre a Olivia clicando nos links abaixo
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MySpace
Palco Principal


Essa é uma matéria da WebRádio Ilha
Ouça clicando aqui

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Musicoterapia

Vida é música e vice-versa

Por Letícia Amorim

Há alguns anos, busco expandir o meu ser na música. Encontrei nela o refúgio para as aflições diárias, frustrações, estresses familiares, problemas rotineiros e demais eventualidades que poderiam afligir a minha vida. Segui assim durante muitos anos: uma musicista solitária que tinha a minha válvula de escape neste hobby (por algum tempo foi profissão).

Sempre acreditei no poder de transformação da música. Em um belo dia recebi um e-mail de uma grande amiga que trazia uma reportagem sobre musicoterapia. Após ler atenciosamente tudo aquilo, resolvi procurar mais informações sobre o tema. Visitei muitos sites, descobri muitas coisas, conversei sobre o tema com profissionais e percebi o poder que a música pode ter dentro de um tratamento terapêutico sério. Por este motivo resolvi escrever sobre musicoterapia. É bom lembrar que sou musicista e não musicoterapeuta. Nutro uma imensa paixão pela musicoterapia. Ela é uma mistura de admiração e curiosidade infinita que se traduz na busca pela divulgação desta ciência que poucos conhecem, exploram e utilizam.

Vamos às informações inicias:

O que é musicoterapia?

Segundo a Federação Mundial de Musicoterapia (World Federation of Music Therapy), musicoterapia é a utilização da música e seus elementos musicais (som, ritmo, melodia e harmonia) pelo musicoterapeuta e pelo cliente ou grupo. O seu processo é estruturado para facilitar e promover a comunicação, o relacionamento, a aprendizagem, a mobilização, a expressão e a organização (física, emocional, mental, cognitiva e social). O seu objetivo também é desenvolver ou recuperar funções e potenciais do indivíduo para que ele, dessa forma, possa conquistar com facilidade uma melhor integração intra e interpessoal e, como resultado de um processo, uma melhor qualidade de vida.

Aplicação

A utilização da música para facilitar a integração física, psicológica e emocional e o tratamento de algumas doenças ou deficiências pode ser dirigida a todos os grupos etários. Isso proporciona uma característica de universalidade e de amplitude à musicoterapia. Além de abranger seres humanos de qualquer idade, ela tem o poder de englobar povos, raças, etnias, culturas, sexos e épocas. Isso acontece porque a música atravessa mundos, aproxima culturas, povos, raças e tempos. Ela tem um caráter igualitário, homogêneo, fala qualquer língua e pode ser sentida por qualquer um. A sua qualidade de ser não-verbal oferece muitas possibilidades de expressões.

Essa forma de utilização da música e seus elementos pode ser aplicada para todos aqueles que buscam um maior autoconhecimento e autocontrole; no combate ao estresse em gestantes, crianças, adolescentes e terceira idade; em crianças e adolescentes no tratamento de distúrbios de conduta na infância e na adolescência; em empresas na área de recursos humanos; áreas social, institucional e educacional; em idosos na geriatria e gerontologia; na área da saúde mental, auxiliando no tratamento do autismo, psicoses, esquizofrenia, neurose, fobias, síndrome do pânico, depressão, dentre outros; na área médica em geral, para casos de deficiências mentais, físicas, sensoriais e múltiplas, dependência química, distúrbios neurológicos, pacientes em coma, retardo neuropsicomotor, síndromes com comprometimento do desenvolvimento.

Musicoterapia como processo terapêutico

A musicoterapia traz uma abordagem criativa para o trabalho terapêutico. Isso viabiliza uma abordagem humanista que reconhece e desenvolve recursos internalizados, em geral reprimidos pelo cliente. A idéia é fazer com que o cliente adquira uma maior autoconsciência em lato sensu.

O musicoterapeuta, ao avaliar as necessidades do cliente, desenvolve a abordagem e o programa terapêutico. Após essa ação, ele seleciona as atividades específicas para alcançar os objetivos do tratamento. É preciso deixar claro aqui que a música não é um curativo eficaz em si mesmo. Os seus efeitos terapêuticos são resultantes da aplicação profissional durante todo um processo terapêutico especificamente estudado e aplicado a cada caso concreto que é bastante satisfatório.

Principais objetivos da musicoterapia

A musicoterapia tem como objetivos principais promover uma livre expressão sonora (vocal, corporal e instrumental); propiciar uma melhoria na comunicação; viabilizar a integração grupal; estabelecer limites; desenvolver a percepção pessoal, interpessoal, espaço-temporal, sonora, corporal, ambiental e sensorial; facilitar a socialização; desenvolver e auxiliar a coordenação rítmica e motora; auxiliar a memória, atenção, concentração, criatividade, improvisação, respiração, relaxamento; e no combate ao estresse e a depressão.

sábado, 31 de outubro de 2009

Flavio Valente entrevista Anisio Cabral

Por Flavio Valente
Anísio Cabral tem 33 anos de serviços prestados como tamborim da União da Ilha do Governador. Em atividade, é o segundo há mais tempo desfilando pela escola. Numa tarde de domingo, na laje do Bar Rako, na Serra Morena, batemos um papo sobre samba em geral, percussão mais especificamente e tamborim, em detalhes. Marcio Figueiredo dirigiu e gravou tudo em duas câmeras, Carlinhos deu assessoria e o papo foi amaciado por intermináveis cervejas geladas, um caldo de ervilha esplendoroso, um coelho, um pato e outros bichos mais. Na conversa, Anísio lembra desfiles inesquecíveis da escola, fala dos batuqueiros da Ilha, comenta a transformação que o andamento do samba sofreu e explica porque a bateria da União da Ilha é considerada uma das melhores do Rio de Janeiro.


CASO O VIDEO ACIMA NÃO FUNCIONE CLIQUE AQUI
Esse é o blog da WEB RÁDIO ILHA

Mensageiros do Vento









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(Tamanho: 12 Mb / Duração: 23 minutos)


Saiba o que há de novo no som de Salvador.

Agradecendo ao Fabio e ao Fabricio da mensageiros do vento, estamos disponibilizando o programa que mostra as novas bandas de Salvador, Bahia.

sábado, 24 de outubro de 2009

Embarque ao som de Igor França

Por Gilson Cunha

Na década de oitenta e noventa, sempre me atentei aos discos e CDs que contassem uma história ou tivessem um tema como título e todas as músicas incluídas falassem do mesmo, sem necessariamente seguir uma cronologia. Não encontrei muitos. Minha grata surpresa inicial ao conhecer o trabalho de Igor França, foi justamente a idéia de seu CD expressar todas as etapas de uma viagem de avião, do check in a aterrisagem, passando pela decolagem e a serenidade do céu.
No entanto, seu trabalho diz mais que isso, Igor França se revelou um músico de técnica apurada nesse seu CD de estréia. Conversamos com o Baixista para saber um pouco mais sobre sua trajetória e impressões sobre a música. Igor França é mais uma boa dica que encontramos. Dessa vez, para os interessados em música instrumental, contra-baixo e talentos desse Brasil afora, "apresentamos" um pouco do músico Igor França que você pode ouvir na Web Rádio Ilha e nos links ao fim da matéria.

Web Rádio Ilha - Igor, hoje você é um musico conceituado em sua região, autodidata e multiinstrumentista certo? Diante do interesse e habilidade com tantos instrumentos, como foi a escolha do seu instrumento principal, o contrabaixo? Houve alguma referência a algum músico específico, uma situação na vida, influência da família? O que você sente hoje por ter escolhido o contrabaixo entre tantos outros?


Igor França - Bom, digamos que eu "fui e voltei"... influenciado pelo meu irmão, que começou a ter aulas de violão clássico e erudito, eu pude perceber que não seria tão difícil aprender a "tirar notas" de um instrumento. Meu pai tinha uma guitarra velha encostada, e aí eu tentei algo nela. Após algum tempo, me tornei fã da banda KISS (e, principalmente, de Gene Simmons, achei "louco demais" o que ele fazia e queria fazer igual). Após quase "destruir" a guitarra do meu pai (e assim, dando meus primeiros passos para a luthieria também), ele me deu um baixo. Isso foi em 1997.


WRI - Você escreve suas musicas em partitura ou tem um jeito especial de escrevê-las? Como foi seu processo de aprendizagem nesse sentido? Alguma dica para quem não tem aquele extra para aula particular e esta começando?


IF - Na verdade, toda composição minha já vem pronta na cabeça. Temas, acordes "in e out", tom, riffs... enfim. Depois, é "montar" tudo isso e construir os detalhes, produzir, arranjar. Mas tudo já pré-pronto, e aí, só na finalização, escrevo para outros músicos tocarem comigo, ou mesmo para arquivar, mesmo porque sou meio esquecido. Esse "esquema" todo fica muito mais fácil quando você estuda harmonia, (tonal, atonal, funcional, outside...) escalas e seus usos. Pra quem não tem como pagar um professor, como foi o meu caso, eu sugiro duas coisas: perseverança e paciência. Lute pelos seus objetivos, respeitando o seu rítimo inicial, que costuma ser lento mesmo. Use mais um "mapa mental" daquilo que é difícil de tocar, costuma funcionar bem, mesmo porque, quem manda é o cérebro, não os seus dedos. E hoje em dia temos a internet bastante difundida, não tem desculpa para não aprender. Na Internet, existem vários sites e métodos excelentes.



WRI - Muitos músicos quando jovens, conflitam técnica e sentimento, acham que quanto mais estudarem, mais longe ficarão do feeling. Como você conciliou esses dois pontos tão importantes para execucão da música? Conte-nos se em algum momento, um lado tenha atrapalhado o outro.


IF - Isso é verdade... eu acredito que técnica é uma ferramenta, e cada um tem o seu "feeling", aplica sentimento de seu modo. As duas coisas podem sim andar juntas e serem aplicadas/exploradas no momento mais adequado, ou numa determinada música/trecho onde cada coisa fica devidamente mais evidente. Por ser autodidata e por buscar tocar aquilo que eu curtia, esse "conflito" teve maior parte no início dos meus estudos, onde eu procurava tocar coisas mais difíceis, e se "agravou" quando entrei numa banda de progmetal, onde o quesito essencial era: tocar "bem" (rápido, com técnica, etc).


WRI - Como surgiu a idéia do CD “Crossing the Skies”, que fala sobre uma viagem de avião e as emoções que a envolvem?


IF - No início das gravações, eu tinha apenas 9 músicas prontas, mas nenhuma delas tinha conexão, não tão evidente como está no CD. Dessas, aproveitei 5 e compus mais 6 para fazer parte do CD. A idéia surgiu de duas coisas: a primeira, um relacionamento que tive com uma comissária; a segunda veio devido à uma viajem que fiz, onde no caminho meu irmão colocou CD's do Joe Satriani e eu comecei a, literalmente, "viajar no som". E nisso, eu pensei que seria muito legal ter um CD que "já fosse uma viagem". Aí, foi só compor as outras músicas, encaixar as que já estavam pré-prontas na estória...


WRI - Você gravou, além do contrabaixo, vários outros instrumentos em seu CD solo. Isso foi mais falta de disponibilidade e tempo dos outros músicos aliada a vontade de ver logo o trabalho pronto, ou simplesmente querer ver o trabalho do seu jeito?


IF - As três coisas... aliada à falta de grana pra pagar outros músicos. Eu sempre busco, em tudo que faço, a total autonomia... acho que isso é muito bom, pois te deixa mais livre. Tem um lado ruim, pois você tem de se desdobrar, isso leva mais tempo às vezes, mas no geral, é bom. Algumas coisas que exigiram mais técnica, eu pedí para outros amigos meus executarem, mandando a idéia e deixando-os livres para fazer o que quisessem.


WRI - Você enfrentou problemas com o fato de ser baixista e querer liderar um trabalho? Você acha que existe alguma discriminação quanto a isso? E como você vê o mercado do contrabaixo hoje no Brasil?


IF - Bem, acho que a única discriminação que eu encontrei até hoje sobre isso, foi o fato de eu tocar rock. Não é uma coisa de proporções gigantescas, mas sinto que ainda há um pouco de preconceito de alguns músicos (em geral, jazzistas) por ter o rock como algo "fácil" de tocar. Mas o rock é fácil de ouvir, e isso é essencial para um músico se tornar mais conhecido, agradar mais e mais ouvidos, principalmente de quem sequer sabe o que é um baixo. O mercado é cheio de talentos, o Brasil vive já a algum tempo um "boom" de músicos excepcionais, com trabalhos maravilhosos. O problema do nosso país é o espaço dado para que isso chegue ao grande público.


WRI - Você pretende gravar outros CDs com a mesma idéia de uma historia seqüencial?


IF - Sim. O "Crossing The Skies" surgiu de uma forma onde eu deixei em aberto, a última música do CD "não termina"... e só será concluída daqui mais duas "estórias", mas antes, quero gravar algo mais voltado para nossas raízes, explorando a bossa, o sambajazz, o baixo fretless e um "Power trio".


WRI - Falando um pouco mais sobre a produção, você já produziu outros trabalhos além dos seus?



IF - Na verdade, sempre pesquisei, sempre gostei de como se "constrói" uma música. Mas, infelizmente, isso não foi aproveitado pelas bandas e pelos trabalhos onde passei. Então, pude por em prática o (pouco) conhecimento que tenho sobre para produzir meu som. E, apesar de ser um chato de carteirinha e perfeccionista demais (o que é bem ruim muitas vezes), achei que ficou muito bom, pra um primeiro trabalho.


WRI - Qual a plataforma e software de gravação você usou em seu CD? Você gravou, mixou e masterizou todo o CD no seu Home Studio? E mais uma vez, sentiu algum tipo de resistência ao seu trabalho pelo fato de ter sido gravado num Home Studio?


IF - Eu comecei no mundo da gravação digital por um soft e terminei por outro, por "incompatibilidade de gênios": Cakewalk e Reaper, respectivamente. Todo o processo, desde as gravações e montagemd a arte, eu fiz aqui no meu "pseudo" homestudio. O mais legal disso é que todo mundo acha que eu tenho um mega-studio, ninguém acredita que gravei tudo isso no meu quarto, e que gastei horrores... Acho que ficou bom, no final das contas... :-D


WRI - Agora vamos falar um pouco sobre o trabalho de campo. Você já viajou ou pretende viajar para divulgar o Crossing the skies? Quais suas expectativas para a aceitação do publico? Muitos músicos desanimam por saberem que seu trabalho não e convencional, mas se surpreendem com a boa receptividade do publico, você compartilha desse sentimento?


IF - Bem, nesse aniversário de um ano de lançamento do CD, muitas coisas me chatearam profundamente. Uma delas é o fato de não ter o devido espaço para coisas novas, apesar do público em geral estar receptivo à coisas novas. Outra coisa é o fato de eu não ter lançado em um show meu CD, pela falta de espaço e oportunidade dados aos músicos daqui de Santos. Também há o fato de que tudo custa caro, desde você prensar um CD até a divulgação... claro que tudo tem seu custo, mas isso é um entrave pra quem faz tudo sozinho. Mesmo assim, tendo divulgado pouco (especialmente por esse fator, falta de capital), a aceitação do público foi excelente ! Incrível como muita gente conhece meu trabalho, mesmo em outros estados e até países. Isso é muito gratificante, pois te mostra que você está no caminho certo, ou seja... fez um bom trabalho.


WRI - Em sua trajetória musical, como foi sua relação com a OMB? Você consegue enxergar vantagens e desvantagens para os músicos por existir a Ordem tal como ela é hoje?


IF - Como tudo começou como "hobby", nunca me preocupei com a OMB e por ter uma homologação. Após a entrada em uma banda, como citei, e ela ter tido certa projeção no cenário musical, fazendo bastante shows pelo país, passei a considerar minha entrada na OMB, mas foi numa época onde ela estava esquecida e sequer tinha fiscalização e, quando tinha, eram por pessoas pouco ligadas à música e arte. Quando iniciei minha carreira solo, fui diretamente procurar a OMB, mas foi na época em que a lei que a derrubava foi sancionada pelo governador do estado... então, até hoje, não tenho a carteira. E, sinceramente, só a terei quando a coisa for mais séria, principalmente para tirar a carteira.


WRI - Você comenta que gostaria de ultrapassar os limites do contrabaixo. O que você tem pensado para o futuro breve? Já pensou em apresentações com dois ou mais baixos ao mesmo tempo? Afinações diferentes? Efeitos? Qual o seu próximo passo no desenvolvimento de sua música com o contrabaixo?

IF - Na verdade, penso que todo instrumentista que busca evidenciar seu instrumento, tem de pensar numa amplitude muito maior do que apenas satisfação pessoal. Não pretendo ser um malabarista, mas sim, um baixista que "toca" (literalmente) a maioria das pessoas me ouvirem e me verem tocando. Sempre penso no lance "Plástico" da coisa, mas principalmente, na sonoridade. Musicalmente falando essa é minha pretenção: quando um músico que "sabe tudo" e um leigo que "não sabe nada" ouvirem meu som, gostarem na mesma proporção, ou seja... apreciarem a música e o que eu faço no baixo.

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Essa é uma matéria feita pela WebRádio Ilha
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sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Coyote Valvulado lança CD - Papo com Oswaldo Coyote

Por Marcio Figueiredo


Um lamento é expresso de diversas maneiras no mundo. Gritos e choros são muitas vezes a única expressão possível para demonstrar tal sentimento. Há porém aqueles que esbravejam diante de injustiças, o lamento então, é também reenvindicação, clamor e luta. Dentre tantas possibilidades, a música é talvez a mais comum entre as formas artísticas de se dizer o que pensa. Mesmo sem palavras, um solo de gaita ou uma linha de baixo, dizem tantas alegrias ou tristezas quanto um uivo de coiote na colina, contrastando à lua cheia enorme no horizonte.
Na música, não é possível falar de lamentos sem mencionar o blues, nem tão pouco da luta sem falar do rock. Essa mistura traz desabafo, satisfação, vômito, carisma e alegria, fruto de uma transformação química que muitas vezes começa como dor e lamento.
No Brasil a receita é perfeita, e mesmo que tal transmutação seja possível em qualquer ritmo, foi de fato no rock blues que a banda Coyote Valvulado encontrou sua expressão musical mais sincera. As letras falam da herança cármica do Brasil, festas de fevereiro, vontades e desejos, sob a ótica de um ser que lembra Frankstein, ou o mascote dele, um ciborgue urbano, com olhar também otimista, que consegue enxergar anjos encarnados, meninas ousadas e vendedores de sonhos, afinal não é só de lamento que se uiva um COYOTE.
Conheça um pouco mais sobre a banda e o vocalista e gaitista Oswaldo Coyote.

Web Radio Ilha - Soube que a ‘gestação’ do CD durou bastante tempo. Pode nos contar um pouco quais foram as dificuldades dessa produção?

Oswaldo Coyote – Ganhamos uma gravação profissional no Studio 21 na barra, e começamos a gravação em julho de 2007. No meio da gravação do disco o Nando Black nosso guitarra avisou que ia deixar a banda, ai deu um baixo astral, mas o cara gravou a maior parte das guitarras e terminou o trabalho. Na época estava morando em Niterói então o processo da banda ir gravar demorou uns três meses. Depois de gravado estava procurando um selo ou uma distribuidora para o disco, e o maior objetivo era mixar bem o disco e produzir. Foi ai que em 2008 assinei com a Astronauta Records e em parceria com o Bruno Marcos da Tomba Records fizemos a produção do cd que levou de fevereiro de 2009 até julho. Ai começou a captação de recursos para prensagem, enfim o disco chegou agora em setembro.

WRI - Criar letras em português é para muitos uma grande dificuldade que você parece não ter. Neste CD, cada música parece um lamento diferente de um Coyote humanizado com um cérebro valvulado implantado, que chega a cidade grande e começa ter impressões e sentimentos urbanos. Lógico que isso é uma impressão minha e é fruto de uma fantasia que sugere o próprio encarte. Qual foi enfim, a maior inspiração para as letras do CD?

OC – É isso mesmo, um coyote cyborg urbanoide que após ser implatada as válvulas ele ganha a metrópole com seu uivo que transmite vários sentimentos. Essas letras já são antigas, algumas já foram feitas há dez anos, no começo de carreira lá em Londrina quando tocava com outra banda, e as letras como ‘dentro da cabeça do homem’, ‘livre quem será’ e ‘anjo de vidro’ são safras antigas que eu queria muito registrar com essa banda que montei com vários músicos que tem alma rock, como meus parceiros Karlituz Rodrigues que é de Brasília e é outro coyote calango que invadiu o rio com seu Contrabaixo, Marcelo Nestler, um grande guitarrista e ainda Ewerton Gama o novo batera que manda muito bem. Na faixa 3 que é ‘fora do tempo’, é a faixa mais tensa do disco, escrevi num dia de carnaval, esses dias que você não tem um puto no bolso e fica vendo toda aquela sacanagem do carnaval e aí escrevi aquela letra, acho ela bem revoltadinha. (risos)

WRI - O CD Coyote Valvulado é repleto de rocks com linguagens de blues urbano, elétrico. Como você vê o cenário atualmente desse estilo? Acha que existe a possibilidade desse gênero crescer ainda mais?

OC - Acredito que o rock blues do Brasil é muito rico, e como você disse na outra pergunta, escrever letras em português não só para o rock como para a música no geral, não que seja difícil, mas existe muita forçassão de barra, pessoas que não escrevem nada e querem compor, não estou julgando, mas falando o que acho. Mas o cenário é difícil para todos os ritmos e acredito na luta individual do artista.

WRI - Sabemos que fazer rock’n’blues no Brasil é uma certeza de que sua visibilidade na mídia será limitada. Isso já te fez pensar em algum momento na sua carreira, em mudar, mesclar ou adaptar outros ritmos a sua música? Percebo que nas faixas “Dentro da cabeça do homem” e “Jagunço de tocaia” essa adaptação já começa. Você acha isso possa virar uma tendência em seu trabalho no futuro?

OC - Com certeza! Sou roqueiro mas amo música brasileira, e pra falar a verdade já tenho algumas musicas para o segundo disco prontas, músicas loucas, com refrão a la Black Sabbath e quando entra a música mesmo é um funk anos 70 estilo Tim Maia. Dentro da cabeça do homem tem uma parte com elementos de samba que eu gosto muito, e você sacou bem essa mistura que o coyote valvulado faz, mas veja bem, eu não fico na hora de compor achando que tem que ser feita uma mistura, porque o rock por si só ele não precisa de nenhuma mistura, ele é como droga boa, já vem forte...(risos). Tenho certeza que nosso segundo disco tem tudo para superar o primeiro.

WRI - Falando mais sobre o cotidiano do músico. Trabalhar com música no Brasil durante muito tempo é sinal de perseverança. Além da paixão pela música (que é óbvio), o que mais te motiva para continuar nesse meio tão difícil?

OC - Comprei um contrabaixo quando tinha 23 anos e vendi numa sexta feira para ter grana para curtir, na segunda a depressão por ter vendido foi bem grande, passou um tempo e apareceu a gaita, acho que é o instrumento que te escolhe, pelo menos comigo
foi assim. E quando saí de cima do muro e abracei a música eu já sabia pois não era mais moleque. Música no Brasil é como o Hermeto Pascoal falou, não é profissão, é devoção. O cara tem que saber que ele pode se dar bem, mas também o tempo pode passar e você chegar aos cinqüenta totalmente sem grana, sem casa pra morar e tudo que aflige uma sociedade normal. E o que me faz continuar é a pergunta que eu faço para mim todos os dias: Será que nasci pra isso? Então peço pra meu Deus me avisar, e ele vem fazendo isso, através de sonhos e certezas que um artista busca em sua vida. E claro o grande tesão que tenho em compor em parceiras e tocar minha Gaita que amo tanto.

WRI - Para você qual o principal motivo de desistência de uma carreira musical no Brasil?

OC - Conheço e conheci muito músicos que desistiram, quando viram que a pica é grossa, competitividade e muitas bandas e tal. Mas acredito que o músico de alma, é aquele que já tentou de tudo na vida, mas tudo que lhe resta é sempre tocar, este não desiste nunca. A arte no geral é assim mesmo, é como pintar um quadro, pode demorar uma vida para que alguém veja vida em seu quadro, e já tem pintores fracos, mas com grana que alugam o melhor atelier e se dão bem, enquanto outros talentosos ficam a margem do sucesso. Mas o principal motivo no geral é a grana curta e a falta de talento e amor pela grande musa: A música!

WRI - Você já atuou em alguns Estados do Brasil certo? Já fez apresentações na MTV em São Paulo, seu começo foi no Paraná e hoje é radicado no Rio de Janeiro. Você sentiu alguma diferença na atuação da Ordem dos Músicos do Brasil nesses diferentes lugares? O que você acha que poderia ser feito para melhorar a relação do músico com a Ordem?

OC - Sim, montei o Coyote Valvulado em 2001 em Londrina, mas fiquei pouco tempo por lá, e já me arranquei pro Rio de Janeiro, sabe como é no interior, você sobe no palco pra tocar só suas musicas e são poucos que entendem, a maioria prefere ouvir banda cover do led Zeppelin, o que eu também gosto, mas quando saio na rua quero ouvir som que eu nunca ouvi. Quando tocamos na MTV pecamos porque ficamos muito preocupados em tocar bem, e nem nos preocupamos com a presença e tal, mas foi legal pelo aprendizado.
Em todo Brasil a Ordem dos Musicos não faz nada pela gente. Uma vez tocando em Florianópolis os caras chegaram e como não tinha carteira queriam tomar minha gaita, sai correndo e o guitarrista da banda disse que eu estava fazendo uma participação, no outro dia os mesmos agentes retornaram no bar e lá estava eu de novo tocando, ai não teve jeito tive que dar uma gaita, mas dei uma gaita que estava quebrada...(risos) e fui embora rindo da situação, mas na verdade não sei o que deve ser feito para melhorar, pois a classe musical que vive no underground tinha que ser mais unida.

WRI - Para você qual o melhor caminho para conciliar o sustento da vida com a música independente?

OC - Você me conhece e sabe que eu trabalho na Revista Interatual, escrevo na coluna de música e monto paginas. Antes de ser musico já trabalhei numa porrada de coisas, bancário, despachante, digitador, compensador, pintor de paredes, ajudante de eletricista enfim quando morei em Santos vi que meu negocio não era ficar preso em escritório mexendo com papel ou grana que não me pertence, então abracei essa vida e virei gaitista, que trabalha de garçon que faz bico e se vira como pode. Claro que muitas pessoas me ajudaram e vem me ajudando. Fui adotado por uma família de amigos em Niterói, adotado mesmo, morei na casa da Aline uma grande amiga quase 3 anos, e chamo a Dona Lea, mãe dela de mãe e seu Péricles de pai , são pessoas que moram no meu coração, a família São Dom dom.

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Para comprar o CD entre em contato pelo e-mail: rockoswald@msn.com

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O carisma e arte de Charlie Gibson

Por Odete Marques

Vez em quando somos surpreendidos. Ocorreu comigo quando tive o privilégio de me deparar no myspace com o som de Charlie Gibson, nosso entrevistado esta semana.
Charlie é músico, compositor e experimentador de outras artes, em breve se graduará no curso de Bacharelado em Música Popular, além de participar de várias produções culturais, desenvolve um trabalho bastante influenciado pelo som das décadas de 60 e 70, mas nem por isso deixa escapar as novas tendências da música popular. Ele vai além do rock sessentista, trazendo em sua bagagem tangos, boleros, música clássica, samba, choro, oriental, jazz e eletrônica. Produziu até agora 7 álbuns, sendo o último deles intitulado Ici et Maintenant: La Pluie. Este álbum de 2009 segue o mesmo caminho de seu anterior, "London or Montreal", apresentando um pouco da arte de Charlie Gibson também para os francófonos. A arte da capa novamente foi feita por Cristiano Leão. Em seus álbuns, Charlie Gibson executou todos os instrumentos, desde os pianos, sintetizadores e teclados de palheta à guitarras, baixos, bateria e outros instrumentos menos convencionais.

WEB RÁDIO ILHA - Como a música entrou na sua vida? Você buscou sozinho, ou surgiu através de alguém especificamente? Sua família foi favorável? Como se deu a escolha do instrumento?

CHARLIE GIBSON - Aconteceu tudo muito naturalmente. Quando eu tinha uns 7 anos, ganhei de aniversário um tecladinho de brinquedo, daqueles pequeninos. Aí acabei me apaixonando pelo instrumento e tirando "de ouvido" umas canções e meus pais viram que eu tinha algum potencial. Durante a infancia e adolescência fui fazendo aulas e acabei tendo minha primeira profissão como músico acompanhante de coral (claro, sem falar nas bandinhas adolescentes). Quando terminei o segundo grau, optei por fazer Publicidade e Propaganda, mas depois de dois anos, vi que não era aquilo que queria fazer, e meus pais mesmos que me apoiaram a largar tudo e ir pra Curitiba fazer Música.

WRI - Com que idade fez sua primeira composição?

CG - Eu tinha uns 15 anos, comecei a me interessar bastante por poesia...o próximo passo foi escrever uma canção. Mas a maioria das coisas dessa época se perderam.

WRI - Explique como é o processo de criação/composição? Existem musas inspiradoras? Você compõe para alguém?

CG - Meu processo de criação é bem caótico. Não tenho um método a seguir. Às vezes eu faço a letra e busco uma melodia pra ela. Às vezes a melodia é que faz a letra...às vezes as duas vem ao mesmo tempo. O que eu faço é sentar com um instrumento, um lápis e papel (ou no computador mesmo) e ir deixando a música e o som que estiver dentro de mim me levarem. Depois eu gravo o que saiu e vou escutando pra ver o que tem que melhorar.As músicas vêm de experiencias que a gente vive, das nossas relações com outras pessoas e essas coisas, é dificil fugir disso. Quando mais novo, eu costumava ter várias musas inspiradoras, platônicas principalmente, e acabei fazendo várias canções pra elas. Com o tempo a gente acaba levando as experiências pro terreno da ficção e as músicas acabam ficando menos subjetivas. Mas eu sou um cara romântico, e ainda continuo compondo pra alguém sim. A única diferença é que agora minha musa inspiradora não é nada platônica, e meu próximo álbum (que espero em breve poder mostrar pra vocês) é totalmente dedicado a minha companheira, Laurita.

WRI - Em seus shows, como é a reação do público quando você executa uma música instrumental? Você percebe alguma diferença quando toca uma música instrumental e quando toca uma composição com letra e voz?

CG - A música instrumental tem seu estigma. Eu a vejo como uma música de difícil absorção às pessoas mais leigas, então quando se executa uma música instrumental, acaba sendo aquela coisa: música para músicos, o que é um pouco triste. Nunca tive uma reação negativa quanto às musicas instrumentais, mas é visível a preferência do público às canções. Tudo isso se deve ao fato da educação artística brasileira ser praticamente nula. É uma pena, a música instrumental deveria ser valorizada tanto quanto a canção, visto que a primeira ultrapassa as barreiras da lingua e toca direto nos sentimentos das pessoas.

WRI - Para você música é mais sentimento e menos técnica ou é mais técnica do que sentimento?

A técnica é a ferramenta do músico. É preciso dominá-la pra poder alçar vôos cada vez mais altos. Mas somente técnica sem sentimento é simplesmente masturbação musical. Geralmente é na simplicidade, mas com todo sentimento, que se encontra a beleza. Na complexidade e no virtuosismo é fácil se perder a essência da arte.

WRI - Em breve se graduará em bacharel em Música Popular. Você percebe mudanças no antes e depois desta faculdade?

CG - Amadurecí muito nesses anos e a faculdade abriu muitas portas pra eu poder desbravar a minha arte. Ela me ofereceu os caminhos para entender a arte, mas existem horas e lugares pra exercitar esse academicismo e outras horas e lugares onde apenas devo ser artista. A faculdade me deu os paradigmas, e eu, como artista, devo quebrá-los.

WRI - Como é o cenário em Curitiba para a música? Existe alguma preferência local por estilo musical?

CG - Curitiba é uma cidade em ascenção quanto às artes. Sim, ela sempre foi uma cidade muito artística, porém um tanto quanto provinciana. Devido à proximidade com as cidades mais importantes do país (especialmente São Paulo), muitos artistas a deixavam para ir buscar sonhos mais altos, e os próprios curitibanos acabavam não dando muito valor à produção local. Já hoje eu vejo um movimento contrário. A cena curitibana sempre foi muito roqueira (vide bandas famosas como Relespública, Faichecleres) mas agora vive um "boom" de diversidade. Já é possível ver muito mercado para vários estilos musicais. O Rock continua sendo muito importante, mas eu vejo no futuro Curitiba sendo um pólo musical, gerando não só rock, como mpb, música instrumental, samba, sertanejo, e até música de vanguarda para o Brasil. Temos ótimos músicos aqui, e estamos começando a ser valorizados pelos curitibanos e até pelas pessoas de fora.

WRI - Em shows você só toca músicas autorais ou faz também “cover”? Como é esta relação da música autoral com o público?

CG - Atualmente tenho feito de tudo. Faço muitos "covers" de vários estilos, mas claro que o que me deixa mais entusiasmado é fazer música autoral. Quando apresento meu trabalho acabo me sentindo muito mais gratificado, é uma sensação muito boa ver que aquelas canções que compus estão ganhando vida, e tocando o íntimo das pessoas. Me senti muito emocionado e feliz quando uma pessoa veio me cumprimentar e confessou que "Jura" a fez chorar, e lembrar de momentos importantes da sua vida. Tocar alguém desse jeito não tem preço, é uma sensação indescritívelmente ótima.

WRI - Como vc sente o mercado musical no Brasil? Existe espaço para qualquer estilo, ou você percebe uma maior aceitação de um em detrimento de outros?

CG - Como em qualquer lugar do mundo, a música acabou tornando-se uma indústria. Mas no Brasil vivemos com "modinhas", de tempos em tempos um estilo musical entra em voga, seja por uma novela ou algo que o valha. Mas o mercado para os outros estilos não definham, apenas ficam à sombra. A música independente vem ganhando um bom espaço e vejo que podemos alcançar um equilíbrio entre os vários estilos musicais, se o Brasil realmente for um país que respeita a diversidade.

WRI - Vc vive somente de música? Música para vc é assunto profissional ou é um hobbie?

CG - Sim, a música é a minha profissão. E acho que todos deveriam vê-la assim, por mais que não seja sua principal fonte de sustento. Tenho sorte de poder trabalhar com o que eu amo e vivo somente de música, toco em bandas de baile, faço arranjos, dou aulas e presto vários serviços musicais. É triste saber que ainda hoje, ser artista é sinônimo de ser vagabundo.

WRI - Em quais lugares você costuma tocar? Costuma viajar a trabalho?

CG - Os locais são os mais variados, desde teatros a bares, em eventos, em universidades, em parques. Há tempos em que viajo bastante, especialmente pelo interior do Paraná e para Santa Catarina, mas ainda espero um dia poder conhecer o Brasil todo com o meu trabalho.

WRI - Qual foi o maior dilema que você já enfrentou em relação a música?

CG - Infelizmente, ainda é difícil poder viver somente com a prórpria arte. Então acho que meu maior dilema foi ter que abdicar dos meus gostos estéticos em alguns trabalhos e transformá-los num produto, para poder viver dignamente.

WRI - Qual é o limite entre o seu gosto e o do público? Você já teve que tocar o que você não gosta ou nunca teve problemas com isso?

CG - Pois é, como já disse antes, às vezes tenho que tocar o que eu não gosto, mas acho que isso é algo que acontece em qualquer profissão. Um engenheiro que adore construir pontes vai ter que fazer prédios. Um veterinário, apesar de gostar de trabalhar com animais exóticos, vai ter que cuidar de cãezinhos de madame, não é? Com o tempo e com o reconhecimento é que vai podendo-se restringir mais ao seu gosto pessoal.

WRI - Agora falaremos sobre a valorização dos músicos. O que acha dos cachês que não são pagos pela tabela dos músicos? O que você acha da atuação da Ordem dos Músicos do Brasil (OMB)? E o Ecad?

CG - Me lembro de uma vez quando fui fazer um arranjo e por curiosidade, fui ver quanto a tabela dos músicos dizia para cobrar. É algo totalmente fora da realidade. Mas infelizmente é por que ainda hoje não se trata da música como profissão. Se alguém por mais competente que seja, for cobrar o preço da tabela, simplesmente vai receber um não, pois vai ter alguém que faz isso por hobbie e vai cobrar um terço do que seria digno. Já tive trabalhos que foram negados exatamente por isso, e foram substituidos por amadores, que tocaram por uma cerveja, ou nem isso. É uma falta de respeito. E a OMB que deveria cuidar dos nossos interesses, simplesmente não fede nem cheira. Tenho minha carteira da Ordem, mas até hoje NUNCA me foi pedido em nenhum trabalho. Nunca vi um fiscal da OMB rondando bares, para ver se as condições dos músicos estavam sendo atendidas.
Quanto ao Ecad, apesar de não ser um mar de rosas, ainda faz um trabalho um pouco mais competente. Claro, ainda tem que melhorar muito, principalmente quanto à sua organização, a fiscalização e o repasse dos direitos autorais a quem interessa, mas pelo menos ainda tem um pouco mais de autoridade do que a OMB.

WRI - Lí uma matéria publicada no jornal comunicação de UFPR em que o assunto principal era a música BREGA. Poderia nos explicar a sua relação com este estilo musical?

CG - A música brega é um grande tabu da música popular brasileira. Todo mundo conhece, mas ninguém tem coragem de dizer que gosta. E tem tantas músicas maravilhosas nesse "estilo"! Na faculdade acabei me aprofundando nesse assunto, pra tentar provar um pouco para as pessoas que não é ruim ouvir Odair José, só por que ele tem uma linguagem simples. Muito pelo contrário, é essa linguagem simples, porém bonita que anda faltando à música popular brasileira pra se tornar realmente brasileira. Não que com isso eu esteja desmerecendo Chico Buarque, Tom Jobim e os grandes artistas brasileiros. Mas esses já estão consagrados, e muita da produção musical brasileira, da década de 70 pra cá está sendo jogada para o limbo, simplesmente por que não era ouvida por uma "elite cultural", ou por que não tinha um discurso esquerdista nas entrelinhas. Pura bobagem.

WRI - Vc já teve problemas com membros de alguma banda que participou? Como é sua relação numa banda? É puramente profissional, ou vc permite uma amizade? Fale um pouco sobre seus projetos (bandas).

CG - Sempre me dei bem com membros dos grupos que participei, acho que o respeito tem que ser sempre o principal num grupo. E no fim, sempre acabamos nos tornando amigos, e nos chamando uns aos outros para outros projetos e bandas. É preciso achar um equilíbrio, claro. No trabalho em grupo é preciso por o respeito e o profissionalismo em primeiro lugar, mas depois de um show ou de um ensaio, podemos nos divertir sem problemas. Atualmente estou tocando no Projeto "Realejo é Jazz" todo domingo, fazendo clássicos do jazz e da música instrumental brasileira, numa formação de quatro músicos: piano, baixo, guitarra e bateria. E estou tocando também com a Palco Brasil Orquestra, que faz bailes e eventos. Claro, além do meu projeto autoral, onde meus amigos vem participando.

WRI - Vc é ciumento com suas composições? Permitiria que outros artistas tocassem suas músicas?

CG - Ciumento, não. Acho que a partir de quando uma composição está pronta, ela ganha vida, e precisa mais é voar. Fico sempre feliz quando alguém pede-me para tocar uma música minha, acho uma honra, e fico muito curioso pra ver como ela vai ficar na visão de outra pessoa. É sempre uma grata surpresa.

WRI - Já pensou em desistir da música alguma vez? Se sim, por quê?

CG - Várias vezes. Tem tempos que parece que a carreira de músico fica estagnada, parece que nada vai pra frente, bandas acabam, a gente leva calote de donos de bar... e a gente para e se pergunta: "pra quê continuar com tudo isso?". A última vez que isso aconteceu foi no começo desse ano, quando eu só estava tocando com o "Realejo é Jazz", e não tinha nenhuma previsão de algum outro show à vista. Tive minha companheira, a Laurita pra me dar um suporte quando pensei em largar tudo mesmo... mas, como ela mesma disse: "Não adianta eu fugir da música e ir ficar sentado num escritório 8 horas por dia e ser totalmente frustrado", e realmente é isso... pra que eu vou trabalhar com algo que com certeza se tornaria insuportável brevemente e deixar o trabalho que eu amo de verdade?
Ela me deu muita força pra poder dar uma volta por cima.

WRI - Tens um carinho especial por alguma música que compôs? Porquê?

CG - Essa é uma pergunta difícil. A "Chanson pour une petite fille" é bem especial, por causa de momentos que tenho com minha companheira ao som dela... "Jura" também, foi quando vi, pelo retorno que meus amigos deram dessa música, que eu tinha amadurecido, e me transformado num compositor de verdade. Mas no fim, todas tem alguma coisa especial, todas elas acabam sendo a "trilha sonora" de um capítulo da minha vida, então é difícil escolher uma só.

WRI - O que mais te irrita no meio musical? E o que mais te satisfaz?

CG - Com certeza, a falta de profissionalismo de alguns ditos "músicos" me deixa muito irritado. Na verdade essa é a causa da maioria das irritações que um musico tem. Acabam estigmatizando ainda mais a classe, e desvalorizam o trabalho daqueles que realmente querem fazer música a sério. A falta de união dos músicos, e os "egos inflados" de alguns também são bem irritantes. Mas tudo isso cai por terra quando você está num palco, e percebe a catarse, o olhar de satisfação, os aplausos e a felicidade do público.

WRI - Fale sobre seu ultimo álbum.

CG - "O Moderno Carnaval de Veneza" é meu quinto álbum, todos eles feitos de maneira bem independente. Gravei-o em 2007 sozinho, no meu estúdio caseiro, fiz guitarras, baixos, baterias e teclados. É um disco "conceitual", de certa forma conta uma pequena história sobre personagens conhecidos da Commedia del'Art e eternizados no Carnaval veneziano, mas numa roupagem moderna: o Pierrot, a Colombina e o Arlequim. Nessa história, o Pierrot acaba sendo deixado pela Colombina e, para se vingar, no carnaval se torna um verdadeiro "canastrão", um Arlequim...mas ao desenrolar de tudo ele acaba vendo que isso não vai torna-lo mais completo. Tudo isso em 15 músicas que vão de bossas eletrônicas a milongas, do rock ao jazz, quase como uma "trilha sonora" de uma peça que escrevi com o mesmo nome, mas ainda não tive a oportunidade de executá-la. Depois do "Moderno Carnaval..." eu acabei lançando 3 singles, com 3 músicas cada. Em "Trois Frangepédies" eu entro um pouco na área "clássica" e faço releituras das "Gymnopédies" do compositor francês Erik Satie. São três peças de piano solo bem despretensiosas. Já em "London or Montreal" eu fiz três músicas em inglês, tentando dar um ar de Rock Britânico às minhas músicas (o rock inglês é uma das minhas maiores influencias). Já no último single, de 2009, "Ici et Maintenant: La Pluie" eu exercitei um pouco meu francês, me baseando em outras influências minhas: o yé-yé francófono, Serge Gainsbourg e a chanson francesa.
Todos eles estão disponíveis pra baixar no meu site, o www.charliegibson.net

WRI - Para encerrar: deixe um conselho para quem esta começando.

CG - O caminho não é nada fácil. Dê um passo de cada vez. Sua música é o seu produto: valorize-se. Seja profissional e estude muito para ser o mais competente possível. Nunca deixe de sonhar.

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Este blog é uma base para a www.WEBRADIOILHA.com.br lá você também ouve o Charlie Gibson

sábado, 3 de outubro de 2009

Overdose de realidade

Por Paula Andrade

Existe ainda o tal do machismo? E no meio musical? Existe esta barreira a ser vencida pelas musicistas? Evidentemente, não se trata de uma pergunta com resposta pré-formulada, e sim, algo que merece uma longa reflexão.
É fato que “eles” sempre estiveram à frente no mundo da música. Podemos começar pelos nomes da música clássica, Mozart, Bethoven, Bach; passeando pelos mestres do jazz, Hancock, Milles Davis, Chalie Parker, Louis Armstrong; reis do rock, Elvis, Beatles e os Stones; grandes guitarristas, Steve Vai, Satriani, Santana; sem esquecer dos grooves históricos de Willie Dixon, Jaco Pastorius e Victor Wooten.
Quem não se espantou quando se deparou pela primeira vez com a Esperanza Spalding, líder de um grupo formado por quatro homens? Sem dúvida foi uma batalha para eles reconhecerem que ela sabe exatamente o que está fazendo. Será que o motivo disso é o fato dela ser uma mulher e ocupar uma posição normalmente de um homem? A cantora, baixista e compositora americana reponde a esta questão: "Há músicos que pensam duas vezes antes de admitir que sou uma boa baixista. Convencê-los das minhas qualidades como líder de banda é ainda mais complicado", disse Esperanza a VEJA.
Cantoras sempre foram bem-vindas, em especial quando fazem o tipo sexy, mas a mulher instrumentista corre o risco de ser rechaçada. “Elas não têm a mesma pegada”, dizem. Esta tese desaba quando se revê a história. Mas, mesmo assim, os comentários que elas ouvem continuam os mesmos. Quando têm um bom desempenho, comentam:“até que tocou bem para uma mulher”, mas se a noite é ruim: “É claro que tinha de ser uma mulher!”.
Diante da pergunta mais clichê de todas: “Qual é a sua influência?” a resposta geralmente vem acompanhada do gênero masculino, coisa que só comprova aquilo que desejamos fingir não ver. Mas já faz tempo que se escuta “agora é a vez delas!”. Será que é verdade? O que as mulheres, musicistas anônimas, acham desta afirmação?


Maria Paz, percussionista, participou de inúmeras bandas do cenário carioca, indo do jazz ao flamenco. Sua escola foi o forró, maracatú, samba de raíz, mpb (Cássia Eller principalmente), jazz, chorinho e ritmos latinos. Atualmente está se dedicando ao estudo de rítmos árabes. Busca inspiração nos artistas de rua, os anônimos, porque sempre está em busca do novo
"O machismo está presente no meio musical e muito! Embora as mulheres sejam tão capazes quanto os homens, lidamos dia-a-dia com o preconceito e discriminação de um mundo infelizmente machista, melhorado, mais ainda machista! Já aconteceu comigo algumas vezes de dizerem assim: 'Pô, legal você até que toca bem pra uma mulher!' Só é facilmente aceita quando tem um padrão de beleza extremo (risos)".


Alice Catharina, manauara, começou a tocar baixo no final do ano de 2004. Autodidata, já está atuando como contrabaixista há 5 anos. Assume o baixo nas bandas Roxie e Night Mary, ambas femininas. Com a Roxie, participou de festivais em Manaus, abrindo shows de Biquíni Cavadão, Ludov e Luxúria. A banda está com vários formatos de show e o mais novo é o formato meio acústico. Em novembro fará uma apresentação com a Roxie, no dia 14 no Imperium Vibe Fest. Vale a pena conferir o myspace da banda Roxie e ficar por dentro da agenda: Myspace da Banda Roxie
"Pelo menos aqui em Manaus quando sabem que é uma banda feminina, fazem questão da presença! Mas creio que depende da postura da banda e do tipo de som que ela resolve tocar. Tanto a Night Mary quando a Roxie, são do estilo Pop/Rock, que tem uma aceitação melhor do público. No entanto, alguns comentários pejorativos sempre fazem mesmo. Nem que seja “só por brincadeira”, mas acontece. E sempre tem aquela comparação também. “Ela toca melhor que muito homem”. Eu acredito que o momento pede uma união, pois o músico, de uma forma geral, já sofre com o preconceito da sociedade. Portanto, “todos unidos, todos ganham”. Por isso acredito que agora é a nossa vez. A vez dos Músicos"!


Aline Paixão, carioca, iniciou-se na musica com 15 anos. Seu primeiro instrumento foi o violão, depois a guitarra e mais tarde veio a se interessar pelo contrabaixo. Red Hot Chili Peppers, Ozzy, Rage Against The Machine, Lacuna Coil, Victor Wooten, Michael Jackson, Arthur Maia, Jimi Hendrix, Led Zeppelin, Metallica, Black Label Society, Glenn Hughes são algumas de suas influências. Atuou em algumas bandas como guitarrista e vocalista, Estação X e Morfina. Como baixista desempenhou alguns trabalhos com Letícia Amorim, em que se destaca o vídeo da música “Ciao” de Letícia Amorim no link:
Ver video
“O machismo existe sim, isso é um fato indiscutível! Nós crescemos e vivemos driblando esse preconceito, criando formas de ser livres dessa dominação que também está presente no meio musical. Isso acontece mais com as instrumentistas que tocam instrumentos que praticamente só tem homens tocando. Quando aparece uma mulher tocando guitarra, baixo ou bateria, pelo que já presenciei, é uma situação bastante tensa, o clima muda totalmente. As pessoas não estão acostumadas a ver mulheres liderando homens. Mas percebo uma melhora, agora temos é que aproveitar isso de forma inteligente”.


Eleonora Curi, baixista, atuou no fim da década de 60 na banda THE OFF BEATS. Atualmente é sócia de um estudio de audio e video em Niteroi, Conheça o estúdio
“Para mim fica dificil achar discriminação atualmente. Imagine o que era no final dos anos '60. Eu tocava baixo elétrico na banda "conjunto" THE OFF BEATS.Os três outros componentes eram rapazes, e ainda por cima tocavamos ROCK. Em 69 participamos do festival Caravana do Yê Yê Yê, fomos receber o premio no programa "Tio Tonka" na TV Continental, e até lá as pessoas se espantaram comigo no baixo. Nos últimos anos, as mulheres tem se destacado em todas as profissões, o que ajudou muito a diluir o preconceito. O cenário musical está repleto de musicistas, e excelentes, por sinal, mas sempre existe um "engraçadinho" metido a machista!”


Mariana Cunha, carioca de 22 anos, começou a estudar bateria com 15 anos. Devido a problemas no punho, teve que reduzir o ritmo de seus estudos, mas se diz apaixonada pelo instrumento.
Atuou por um tempo em uma banda do cenário carioca composta somente por mulheres.
“Com certeza nossa sociedade ainda herda o machismo, em vários campos, inclusive o musical. Mas o machismo vai muito de cada pessoa, tem pessoas que são e pessoas que não são. No meio musical, especificamente, acredito que o machismo seja mais ameno. Mas sempre haverá aquele que acha o diferente incapaz. Eu acredito que “a vez delas é a toda hora. Acho apenas que, nos últimos anos, nós mulheres temos tido maior confiança".



Letícia Amorim, carioca, compositora, contrabaixista e pianista, ganhou destaque dentre os baixistas do cenário brasileiro no site de Joel Moncorvo Veja o link. Iniciou-se musicalmente aos 9 anos no estudo do piano clássico por 5 anos e só mais tarde despertou o interesse pelo contrabaixo. Atuou como contrabaixista em alguns grupos de jazz entre 2004 e 2007, destaca-se o Marfig Jazz Clube que ainda esta em atividade. Com Mariane Guerra desenvolveu um trabalho autoral que chamou de Panturrilhas Severinas. Com Alessandra Barros, Marcio Figueiredo e Pestana desenvolveu o projeto autoral “Carapuça Urbana”. Em 2008 iniciou seu trabalho solo, autoral, onde toca piano e contrabaixo na música “Ciao”. Outro destaque é o polêmico jazz “Vou Cagar” que compôs em parceria com Marcio Figueiredo, onde podemos apreciar um walking bass marcante. Surpreendeu quando cantando em “Por um Triz”, todas de seu álbum autoral “No Lugas”. Podemos conferir essas e outras músicas no seu myspace: link para myspace
"Apesar de minha inocência inicial, sempre percebi gestos, olhares e comentários machistas no meio musical. Já fui alvo deste tipo de preconceito. Piadas, por mais que soassem como brincadeira sempre foram parte do dia a dia musical. Isso já me aborreceu muito, mas hoje em dia, ou acostumei ou parece que resolveram “me aceitar” (risos). Realmente existe um fator cultural e histórico muito grande. Parece coisa de outro mundo, mas bem pouco tempo atrás as mulheres nem votar votavam ... Portanto, ainda não se pode dizer que não há machismo no meio musical. É algo gradativo, mas ainda choca ver uma mulher tocar baixo ou bateria. Mas parece que estamos conquistando nosso espaço. De vez em quando ainda escuto comentários, mas isso só me dá mais vontade de seguir em frente".



Lena Ganthos, compositora carioca, violonista e cantora. Atuou em diversas bandas do cenário carioca.
Atualmente dedica-se ao seu trabalho autoral, que vocês podem conferir no YouTube: Veja video no youtube
“Olha, acho que ainda existe machismo sim, mas
é bem menos que antigamente. Digo isso por experiência própria, pois viví isso com uma banda de rock de Nova Iguaçu nos anos 80, formada só por homens. Acho também que existe uma questão cultural nessa história: "guitarra é instrumento para homens" e "piano para mulheres" blá blá blá. Quantos homens já mostraram talentos divinos pro piano e mulheres pra guitarra? Isso tudo é ridículo e vai cair com o tempo, tenho certeza disso. Tocar um instrumento ainda vai, mas compor é forte demais pra cabeça dos retrógados machistas. O talento não depende de beleza, nem de idade e muito menos do sexo da pessoa. Quando ele tem que vir ele vem logo e pronto, nao tem explicação”

Menos é Miles!


Por Marco Bz

Não faz muito tempo. Eu me vi em um dia desses em que você acorda meio lento, tudo está devagar, você se sente relax e tal, uma onda meio slowrider! Opa!!! Easy,easy... hum... Mas, voltando para a realidade, era um dia mais pra Dorival Caymmi mesmo, onde tudo que você desejaria naquele momento se resumiria em sombra paradisíaca (diga-se de passagem) e água fresca (de coqueiro anão pra não ter stress)!
Mas pra falar a verdade, fiquei no sofá de casa esparramado, zapeando a TV que nem um louco, olhando para o nada com aquela cara de paisagem. Sabe como é? Naquele sublime momento veio na minha cabeça mais um sábio ditado popular: "Porra, caralho, até para fazer sexo dá trabalho!!” Para aprofundar mais a questão, surgiu outro ditado do cancioneiro popular : "Gosto é que nem cunhado...cada um tem o seu!" Eu estava tão mergulhado em um Piscinão de Ramos de milenar sabedoria oriental naquela hora que pensei na questão de às vezes não gostarmos das coisas por não entendermos aquilo que nos deparamos de primeira.
Eu odiava matemática! Só gostava quando conseguia entender a questão e quando tinha a resposta certa nas mãos (era raro!). História só se tornava realmente interessante no momento em que eu entendia o contexto dos fatos e me transportava para o lugar que estava estudando e, assim... caía a ficha!! Vai me dizer que um moleque de 10 ou 12 anos que gosta de música vai parar para escutar um tedioso bolero das antas, quer dizer, das antigas!? Que nada!! Ele vai cair para o rock. E aquele vinil antológico de jazz da mamãe continuará pegando um pouco mais de poeira até um futuro bem próximo. E aí, onde o mesmo moleque já consegue entender um monte de fatos da vida, inclusive o som esquisito que saía da vitrolinha quando aquele disco estranho com gente esquisita começava a rodar!
É camarada... Menos é Miles!

sábado, 19 de setembro de 2009

Um caso de amor - Entrevista com o Músico Marcio Silva


Por Elza Albuquerque

“A música é a minha brincadeira preferida, apesar de ser uma das coisas que mais levo à sério na vida”. Até rimou. O músico Márcio Silva é assim. Apaixonado pelo o que faz, ele não se imagina fazendo outra coisa. Além do amor à arte, ele tem fé de que um dia a sua profissão deixe de ser marginalizada e tenha o reconhecimento merecido.
Segundo Márcio, foi a partir do som do cantor Lulu Santos que ele descobriu o seu próprio som e um universo de outros sons. O primeiro contato que ele teve com a música do artista foi quando ele ouviu o disco “Amor à Arte”, um dos seus preferidos até hoje. “Lembro que foi quando vi uma das fotos do encarte, onde ele segurava uma Fender Stratocaster, que eu tive o primeiro impulso de tocar guitarra”, disse Márcio.

WEBRADIOILHA: Qual é a melhor parte do show? Antes, durante ou depois?

MARCIO SILVA: O durante, por toda energia positiva que envolve os músicos e a platéia. É indescritível.

WRI: Quando a música deixou de ser um hobby?

MS: Em 1996, quando o que deveria ser uma rodinha de violão entre amigos em um barzinho na Zona Sul acabou virando um show: as mesas em volta cantavam alto, faziam pedidos. O bar fechou quase quatro horas além do horário normal de encerramento. No final da noite, a minha conta estava paga e o dono do bar ainda me deu uma graninha. Naquele dia eu percebi que era possível fazer da música a minha profissão.

WRI: Em quais lugares você costuma tocar? Costuma viajar a trabalho? Sempre morou na Ilha?

MS: Sempre morei na Ilha e me apresento bastante no bairro, mas também trabalho em bares, restaurantes e casas noturnas no Centro, Zona Sul e Barra. Como faço poucos shows fora do Rio, as viagens são raras, mas sempre que tenho oportunidade ponho o pé na estrada. Além do contato com outros públicos e artistas locais, a experiência e as histórias que adquirimos com essas viagens não têm preço.

WRI: Você prefere tocar violão e voz ou tocar com banda?

MS: Sempre gostei mais de tocar com banda. Quanto mais elementos o som tem, melhor ele é para mim. Há músicas que realmente só precisam da voz e do violão, mas eu sempre sinto falta de baixo, bateria, guitarras e até de xilofone, se couber na música.

WRI: Qual foi o maior dilema que você já enfrentou em relação a música?

MS: Como investir no meu trabalho autoral e conseguir pagar as contas ao mesmo tempo. Fazer um álbum independente ainda é muito difícil no Brasil, pois todo o processo de confecção de um álbum desde a gravação até chegar à divulgação do trabalho pronto exige um bom investimento financeiro.



WRI: Você consegue viver somente da sua arte?

MS: Apertando um pouco o cinto, mas sim. O meu incoming não dá para uma casa na Vieira Souto, mas paga as contas e até permite uma cerveja depois do expediente. Viver de música no Brasil é difícil, mas não é impossível. O músico tem que correr atrás de shows e contatos o tempo todo e divulgar bastante sua agenda e o seu trabalho, senão morre de fome.

WRI: A vida do músico costuma ser bastante complicada para manter um relacionamento. Você consegue cuidar do lado pessoal e do profissional

MS: Nem sempre é fácil por conta da correria da profissão, mas eu procuro organizar a agenda de forma que o pessoal e o profissional fiquem em equilíbrio. Trabalhar é importante, mas não pode consumir 100% do nosso tempo.

WRI: Fazer show em bar costuma incomodar alguns músicos, em algumas situações. O que você acha de tocar para um público que não está ali por sua causa?

MS: Claro que a apresentação é muito melhor quando o público responde à música, mas não me chateio quando isso não acontece. Se eu fosse contratado para ser guitarrista do Djavan, por exemplo, por mais emoção que eu colocasse em uma música, eu não seria o centro das atenções, a platéia está lá por conta do Djavan. E no bar, as pessoas vão para conversar, azarar, comer e beber... por acaso a música está lá. O músico de noite tem que segurar um pouco o ego e entender duas coisas: a primeira é que barzinho não é show, é música ambiente; a segunda é que nem toda platéia “fria” está alheia ao som. Muitas vezes eles estão curtindo e só não aplaudem porque ninguém aplaudiu antes.

WRI: Qual é o limite entre o seu gosto e o do público? Você já teve que tocar o que você não gosta ou nunca teve problemas com isso?

MS: Todo músico de noite uma hora esbarra em músicas que ele não gosta. Não dá para ser intransigente e tocar somente o que a gente curte, assim como não dá para se violentar tocando um repertório inteiro de coisas que se detesta. O músico tem que achar o meio-termo entre o que a platéia quer e o que ele gosta de tocar, mas é quase impossível desviar de todas as balas: mais hora, menos hora engole-se um sapo.

WRI: Agora falaremos sobre a valorização dos músicos. O que acha dos cachês que não são pagos pela tabela dos músicos? O que você acha da atuação da Ordem dos Músicos do Brasil (OMB)?

MS: Acho que a OMB deixa muito a desejar. As batidas da OMB verificam se os músicos que estão trabalhando são filiados à entidade, mas verificam as condições de trabalho e remuneração do músico?A grande maioria dos músicos brasileiros recebe cachês muito abaixo da tabela e a OMB aparentemente não enxerga isso.

WRI: Como foi a sua preparação para ser músico? O que atualmente você toca e faz musicalmente? Você canta há quanto tempo?

MS: Comecei em 1996, fazendo violão e voz e tocando guitarra em bandas cover de rock clássico. O início foi um pouco turbulento, por conta da pouca experiência na noite e a falta de um equipamento decente, os shows eram poucos e a grana curtíssima. Além disso, a minha família não viu com bons olhos a minha decisão de ser músico e os amigos pensaram que eu tinha ficado maluco de vez. Mas, conforme as propostas de trabalho foram pintando, eles começaram a digerir a idéia e a me incentivar. Atualmente, além de músico e compositor, também sou arranjador e produtor musical.

WRI: Na sua opinião, a Ilha tem um grande potencial em relação a música? O que falta para o panorama melhorar para incentivar mais os músicos dessa região?

MS: A Ilha é berço de artistas extremamente talentosos, mas os espaços são poucos e a maioria das casas não possui o equipamento de som necessário para as apresentações. Também falta incentivo da Prefeitura, que investe muito pouco no cenário musical insulano e ainda proíbe a música ao vivo nos quiosques da orla. Mas, na minha opinião, o que mais falta é consciência por parte do público, que mesmo curtindo o som e pedindo músicas, muitas vezes se nega a pagar o couvert artístico, que na Ilha é pelo menos 50% mais barato do que em qualquer bar da Zona Sul, por exemplo.

WRI: Você já teve algum problema com o ECAD?

MS: Não, nunca tive problemas com o ECAD. E espero nunca ter!

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