sábado, 31 de outubro de 2009

Flavio Valente entrevista Anisio Cabral

Por Flavio Valente
Anísio Cabral tem 33 anos de serviços prestados como tamborim da União da Ilha do Governador. Em atividade, é o segundo há mais tempo desfilando pela escola. Numa tarde de domingo, na laje do Bar Rako, na Serra Morena, batemos um papo sobre samba em geral, percussão mais especificamente e tamborim, em detalhes. Marcio Figueiredo dirigiu e gravou tudo em duas câmeras, Carlinhos deu assessoria e o papo foi amaciado por intermináveis cervejas geladas, um caldo de ervilha esplendoroso, um coelho, um pato e outros bichos mais. Na conversa, Anísio lembra desfiles inesquecíveis da escola, fala dos batuqueiros da Ilha, comenta a transformação que o andamento do samba sofreu e explica porque a bateria da União da Ilha é considerada uma das melhores do Rio de Janeiro.


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Esse é o blog da WEB RÁDIO ILHA

Mensageiros do Vento









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(Tamanho: 12 Mb / Duração: 23 minutos)


Saiba o que há de novo no som de Salvador.

Agradecendo ao Fabio e ao Fabricio da mensageiros do vento, estamos disponibilizando o programa que mostra as novas bandas de Salvador, Bahia.

sábado, 24 de outubro de 2009

Embarque ao som de Igor França

Por Gilson Cunha

Na década de oitenta e noventa, sempre me atentei aos discos e CDs que contassem uma história ou tivessem um tema como título e todas as músicas incluídas falassem do mesmo, sem necessariamente seguir uma cronologia. Não encontrei muitos. Minha grata surpresa inicial ao conhecer o trabalho de Igor França, foi justamente a idéia de seu CD expressar todas as etapas de uma viagem de avião, do check in a aterrisagem, passando pela decolagem e a serenidade do céu.
No entanto, seu trabalho diz mais que isso, Igor França se revelou um músico de técnica apurada nesse seu CD de estréia. Conversamos com o Baixista para saber um pouco mais sobre sua trajetória e impressões sobre a música. Igor França é mais uma boa dica que encontramos. Dessa vez, para os interessados em música instrumental, contra-baixo e talentos desse Brasil afora, "apresentamos" um pouco do músico Igor França que você pode ouvir na Web Rádio Ilha e nos links ao fim da matéria.

Web Rádio Ilha - Igor, hoje você é um musico conceituado em sua região, autodidata e multiinstrumentista certo? Diante do interesse e habilidade com tantos instrumentos, como foi a escolha do seu instrumento principal, o contrabaixo? Houve alguma referência a algum músico específico, uma situação na vida, influência da família? O que você sente hoje por ter escolhido o contrabaixo entre tantos outros?


Igor França - Bom, digamos que eu "fui e voltei"... influenciado pelo meu irmão, que começou a ter aulas de violão clássico e erudito, eu pude perceber que não seria tão difícil aprender a "tirar notas" de um instrumento. Meu pai tinha uma guitarra velha encostada, e aí eu tentei algo nela. Após algum tempo, me tornei fã da banda KISS (e, principalmente, de Gene Simmons, achei "louco demais" o que ele fazia e queria fazer igual). Após quase "destruir" a guitarra do meu pai (e assim, dando meus primeiros passos para a luthieria também), ele me deu um baixo. Isso foi em 1997.


WRI - Você escreve suas musicas em partitura ou tem um jeito especial de escrevê-las? Como foi seu processo de aprendizagem nesse sentido? Alguma dica para quem não tem aquele extra para aula particular e esta começando?


IF - Na verdade, toda composição minha já vem pronta na cabeça. Temas, acordes "in e out", tom, riffs... enfim. Depois, é "montar" tudo isso e construir os detalhes, produzir, arranjar. Mas tudo já pré-pronto, e aí, só na finalização, escrevo para outros músicos tocarem comigo, ou mesmo para arquivar, mesmo porque sou meio esquecido. Esse "esquema" todo fica muito mais fácil quando você estuda harmonia, (tonal, atonal, funcional, outside...) escalas e seus usos. Pra quem não tem como pagar um professor, como foi o meu caso, eu sugiro duas coisas: perseverança e paciência. Lute pelos seus objetivos, respeitando o seu rítimo inicial, que costuma ser lento mesmo. Use mais um "mapa mental" daquilo que é difícil de tocar, costuma funcionar bem, mesmo porque, quem manda é o cérebro, não os seus dedos. E hoje em dia temos a internet bastante difundida, não tem desculpa para não aprender. Na Internet, existem vários sites e métodos excelentes.



WRI - Muitos músicos quando jovens, conflitam técnica e sentimento, acham que quanto mais estudarem, mais longe ficarão do feeling. Como você conciliou esses dois pontos tão importantes para execucão da música? Conte-nos se em algum momento, um lado tenha atrapalhado o outro.


IF - Isso é verdade... eu acredito que técnica é uma ferramenta, e cada um tem o seu "feeling", aplica sentimento de seu modo. As duas coisas podem sim andar juntas e serem aplicadas/exploradas no momento mais adequado, ou numa determinada música/trecho onde cada coisa fica devidamente mais evidente. Por ser autodidata e por buscar tocar aquilo que eu curtia, esse "conflito" teve maior parte no início dos meus estudos, onde eu procurava tocar coisas mais difíceis, e se "agravou" quando entrei numa banda de progmetal, onde o quesito essencial era: tocar "bem" (rápido, com técnica, etc).


WRI - Como surgiu a idéia do CD “Crossing the Skies”, que fala sobre uma viagem de avião e as emoções que a envolvem?


IF - No início das gravações, eu tinha apenas 9 músicas prontas, mas nenhuma delas tinha conexão, não tão evidente como está no CD. Dessas, aproveitei 5 e compus mais 6 para fazer parte do CD. A idéia surgiu de duas coisas: a primeira, um relacionamento que tive com uma comissária; a segunda veio devido à uma viajem que fiz, onde no caminho meu irmão colocou CD's do Joe Satriani e eu comecei a, literalmente, "viajar no som". E nisso, eu pensei que seria muito legal ter um CD que "já fosse uma viagem". Aí, foi só compor as outras músicas, encaixar as que já estavam pré-prontas na estória...


WRI - Você gravou, além do contrabaixo, vários outros instrumentos em seu CD solo. Isso foi mais falta de disponibilidade e tempo dos outros músicos aliada a vontade de ver logo o trabalho pronto, ou simplesmente querer ver o trabalho do seu jeito?


IF - As três coisas... aliada à falta de grana pra pagar outros músicos. Eu sempre busco, em tudo que faço, a total autonomia... acho que isso é muito bom, pois te deixa mais livre. Tem um lado ruim, pois você tem de se desdobrar, isso leva mais tempo às vezes, mas no geral, é bom. Algumas coisas que exigiram mais técnica, eu pedí para outros amigos meus executarem, mandando a idéia e deixando-os livres para fazer o que quisessem.


WRI - Você enfrentou problemas com o fato de ser baixista e querer liderar um trabalho? Você acha que existe alguma discriminação quanto a isso? E como você vê o mercado do contrabaixo hoje no Brasil?


IF - Bem, acho que a única discriminação que eu encontrei até hoje sobre isso, foi o fato de eu tocar rock. Não é uma coisa de proporções gigantescas, mas sinto que ainda há um pouco de preconceito de alguns músicos (em geral, jazzistas) por ter o rock como algo "fácil" de tocar. Mas o rock é fácil de ouvir, e isso é essencial para um músico se tornar mais conhecido, agradar mais e mais ouvidos, principalmente de quem sequer sabe o que é um baixo. O mercado é cheio de talentos, o Brasil vive já a algum tempo um "boom" de músicos excepcionais, com trabalhos maravilhosos. O problema do nosso país é o espaço dado para que isso chegue ao grande público.


WRI - Você pretende gravar outros CDs com a mesma idéia de uma historia seqüencial?


IF - Sim. O "Crossing The Skies" surgiu de uma forma onde eu deixei em aberto, a última música do CD "não termina"... e só será concluída daqui mais duas "estórias", mas antes, quero gravar algo mais voltado para nossas raízes, explorando a bossa, o sambajazz, o baixo fretless e um "Power trio".


WRI - Falando um pouco mais sobre a produção, você já produziu outros trabalhos além dos seus?



IF - Na verdade, sempre pesquisei, sempre gostei de como se "constrói" uma música. Mas, infelizmente, isso não foi aproveitado pelas bandas e pelos trabalhos onde passei. Então, pude por em prática o (pouco) conhecimento que tenho sobre para produzir meu som. E, apesar de ser um chato de carteirinha e perfeccionista demais (o que é bem ruim muitas vezes), achei que ficou muito bom, pra um primeiro trabalho.


WRI - Qual a plataforma e software de gravação você usou em seu CD? Você gravou, mixou e masterizou todo o CD no seu Home Studio? E mais uma vez, sentiu algum tipo de resistência ao seu trabalho pelo fato de ter sido gravado num Home Studio?


IF - Eu comecei no mundo da gravação digital por um soft e terminei por outro, por "incompatibilidade de gênios": Cakewalk e Reaper, respectivamente. Todo o processo, desde as gravações e montagemd a arte, eu fiz aqui no meu "pseudo" homestudio. O mais legal disso é que todo mundo acha que eu tenho um mega-studio, ninguém acredita que gravei tudo isso no meu quarto, e que gastei horrores... Acho que ficou bom, no final das contas... :-D


WRI - Agora vamos falar um pouco sobre o trabalho de campo. Você já viajou ou pretende viajar para divulgar o Crossing the skies? Quais suas expectativas para a aceitação do publico? Muitos músicos desanimam por saberem que seu trabalho não e convencional, mas se surpreendem com a boa receptividade do publico, você compartilha desse sentimento?


IF - Bem, nesse aniversário de um ano de lançamento do CD, muitas coisas me chatearam profundamente. Uma delas é o fato de não ter o devido espaço para coisas novas, apesar do público em geral estar receptivo à coisas novas. Outra coisa é o fato de eu não ter lançado em um show meu CD, pela falta de espaço e oportunidade dados aos músicos daqui de Santos. Também há o fato de que tudo custa caro, desde você prensar um CD até a divulgação... claro que tudo tem seu custo, mas isso é um entrave pra quem faz tudo sozinho. Mesmo assim, tendo divulgado pouco (especialmente por esse fator, falta de capital), a aceitação do público foi excelente ! Incrível como muita gente conhece meu trabalho, mesmo em outros estados e até países. Isso é muito gratificante, pois te mostra que você está no caminho certo, ou seja... fez um bom trabalho.


WRI - Em sua trajetória musical, como foi sua relação com a OMB? Você consegue enxergar vantagens e desvantagens para os músicos por existir a Ordem tal como ela é hoje?


IF - Como tudo começou como "hobby", nunca me preocupei com a OMB e por ter uma homologação. Após a entrada em uma banda, como citei, e ela ter tido certa projeção no cenário musical, fazendo bastante shows pelo país, passei a considerar minha entrada na OMB, mas foi numa época onde ela estava esquecida e sequer tinha fiscalização e, quando tinha, eram por pessoas pouco ligadas à música e arte. Quando iniciei minha carreira solo, fui diretamente procurar a OMB, mas foi na época em que a lei que a derrubava foi sancionada pelo governador do estado... então, até hoje, não tenho a carteira. E, sinceramente, só a terei quando a coisa for mais séria, principalmente para tirar a carteira.


WRI - Você comenta que gostaria de ultrapassar os limites do contrabaixo. O que você tem pensado para o futuro breve? Já pensou em apresentações com dois ou mais baixos ao mesmo tempo? Afinações diferentes? Efeitos? Qual o seu próximo passo no desenvolvimento de sua música com o contrabaixo?

IF - Na verdade, penso que todo instrumentista que busca evidenciar seu instrumento, tem de pensar numa amplitude muito maior do que apenas satisfação pessoal. Não pretendo ser um malabarista, mas sim, um baixista que "toca" (literalmente) a maioria das pessoas me ouvirem e me verem tocando. Sempre penso no lance "Plástico" da coisa, mas principalmente, na sonoridade. Musicalmente falando essa é minha pretenção: quando um músico que "sabe tudo" e um leigo que "não sabe nada" ouvirem meu som, gostarem na mesma proporção, ou seja... apreciarem a música e o que eu faço no baixo.

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Essa é uma matéria feita pela WebRádio Ilha
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Conheça mais sobre Igor França
Ouça agora o IGOR FRANÇA

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Coyote Valvulado lança CD - Papo com Oswaldo Coyote

Por Marcio Figueiredo


Um lamento é expresso de diversas maneiras no mundo. Gritos e choros são muitas vezes a única expressão possível para demonstrar tal sentimento. Há porém aqueles que esbravejam diante de injustiças, o lamento então, é também reenvindicação, clamor e luta. Dentre tantas possibilidades, a música é talvez a mais comum entre as formas artísticas de se dizer o que pensa. Mesmo sem palavras, um solo de gaita ou uma linha de baixo, dizem tantas alegrias ou tristezas quanto um uivo de coiote na colina, contrastando à lua cheia enorme no horizonte.
Na música, não é possível falar de lamentos sem mencionar o blues, nem tão pouco da luta sem falar do rock. Essa mistura traz desabafo, satisfação, vômito, carisma e alegria, fruto de uma transformação química que muitas vezes começa como dor e lamento.
No Brasil a receita é perfeita, e mesmo que tal transmutação seja possível em qualquer ritmo, foi de fato no rock blues que a banda Coyote Valvulado encontrou sua expressão musical mais sincera. As letras falam da herança cármica do Brasil, festas de fevereiro, vontades e desejos, sob a ótica de um ser que lembra Frankstein, ou o mascote dele, um ciborgue urbano, com olhar também otimista, que consegue enxergar anjos encarnados, meninas ousadas e vendedores de sonhos, afinal não é só de lamento que se uiva um COYOTE.
Conheça um pouco mais sobre a banda e o vocalista e gaitista Oswaldo Coyote.

Web Radio Ilha - Soube que a ‘gestação’ do CD durou bastante tempo. Pode nos contar um pouco quais foram as dificuldades dessa produção?

Oswaldo Coyote – Ganhamos uma gravação profissional no Studio 21 na barra, e começamos a gravação em julho de 2007. No meio da gravação do disco o Nando Black nosso guitarra avisou que ia deixar a banda, ai deu um baixo astral, mas o cara gravou a maior parte das guitarras e terminou o trabalho. Na época estava morando em Niterói então o processo da banda ir gravar demorou uns três meses. Depois de gravado estava procurando um selo ou uma distribuidora para o disco, e o maior objetivo era mixar bem o disco e produzir. Foi ai que em 2008 assinei com a Astronauta Records e em parceria com o Bruno Marcos da Tomba Records fizemos a produção do cd que levou de fevereiro de 2009 até julho. Ai começou a captação de recursos para prensagem, enfim o disco chegou agora em setembro.

WRI - Criar letras em português é para muitos uma grande dificuldade que você parece não ter. Neste CD, cada música parece um lamento diferente de um Coyote humanizado com um cérebro valvulado implantado, que chega a cidade grande e começa ter impressões e sentimentos urbanos. Lógico que isso é uma impressão minha e é fruto de uma fantasia que sugere o próprio encarte. Qual foi enfim, a maior inspiração para as letras do CD?

OC – É isso mesmo, um coyote cyborg urbanoide que após ser implatada as válvulas ele ganha a metrópole com seu uivo que transmite vários sentimentos. Essas letras já são antigas, algumas já foram feitas há dez anos, no começo de carreira lá em Londrina quando tocava com outra banda, e as letras como ‘dentro da cabeça do homem’, ‘livre quem será’ e ‘anjo de vidro’ são safras antigas que eu queria muito registrar com essa banda que montei com vários músicos que tem alma rock, como meus parceiros Karlituz Rodrigues que é de Brasília e é outro coyote calango que invadiu o rio com seu Contrabaixo, Marcelo Nestler, um grande guitarrista e ainda Ewerton Gama o novo batera que manda muito bem. Na faixa 3 que é ‘fora do tempo’, é a faixa mais tensa do disco, escrevi num dia de carnaval, esses dias que você não tem um puto no bolso e fica vendo toda aquela sacanagem do carnaval e aí escrevi aquela letra, acho ela bem revoltadinha. (risos)

WRI - O CD Coyote Valvulado é repleto de rocks com linguagens de blues urbano, elétrico. Como você vê o cenário atualmente desse estilo? Acha que existe a possibilidade desse gênero crescer ainda mais?

OC - Acredito que o rock blues do Brasil é muito rico, e como você disse na outra pergunta, escrever letras em português não só para o rock como para a música no geral, não que seja difícil, mas existe muita forçassão de barra, pessoas que não escrevem nada e querem compor, não estou julgando, mas falando o que acho. Mas o cenário é difícil para todos os ritmos e acredito na luta individual do artista.

WRI - Sabemos que fazer rock’n’blues no Brasil é uma certeza de que sua visibilidade na mídia será limitada. Isso já te fez pensar em algum momento na sua carreira, em mudar, mesclar ou adaptar outros ritmos a sua música? Percebo que nas faixas “Dentro da cabeça do homem” e “Jagunço de tocaia” essa adaptação já começa. Você acha isso possa virar uma tendência em seu trabalho no futuro?

OC - Com certeza! Sou roqueiro mas amo música brasileira, e pra falar a verdade já tenho algumas musicas para o segundo disco prontas, músicas loucas, com refrão a la Black Sabbath e quando entra a música mesmo é um funk anos 70 estilo Tim Maia. Dentro da cabeça do homem tem uma parte com elementos de samba que eu gosto muito, e você sacou bem essa mistura que o coyote valvulado faz, mas veja bem, eu não fico na hora de compor achando que tem que ser feita uma mistura, porque o rock por si só ele não precisa de nenhuma mistura, ele é como droga boa, já vem forte...(risos). Tenho certeza que nosso segundo disco tem tudo para superar o primeiro.

WRI - Falando mais sobre o cotidiano do músico. Trabalhar com música no Brasil durante muito tempo é sinal de perseverança. Além da paixão pela música (que é óbvio), o que mais te motiva para continuar nesse meio tão difícil?

OC - Comprei um contrabaixo quando tinha 23 anos e vendi numa sexta feira para ter grana para curtir, na segunda a depressão por ter vendido foi bem grande, passou um tempo e apareceu a gaita, acho que é o instrumento que te escolhe, pelo menos comigo
foi assim. E quando saí de cima do muro e abracei a música eu já sabia pois não era mais moleque. Música no Brasil é como o Hermeto Pascoal falou, não é profissão, é devoção. O cara tem que saber que ele pode se dar bem, mas também o tempo pode passar e você chegar aos cinqüenta totalmente sem grana, sem casa pra morar e tudo que aflige uma sociedade normal. E o que me faz continuar é a pergunta que eu faço para mim todos os dias: Será que nasci pra isso? Então peço pra meu Deus me avisar, e ele vem fazendo isso, através de sonhos e certezas que um artista busca em sua vida. E claro o grande tesão que tenho em compor em parceiras e tocar minha Gaita que amo tanto.

WRI - Para você qual o principal motivo de desistência de uma carreira musical no Brasil?

OC - Conheço e conheci muito músicos que desistiram, quando viram que a pica é grossa, competitividade e muitas bandas e tal. Mas acredito que o músico de alma, é aquele que já tentou de tudo na vida, mas tudo que lhe resta é sempre tocar, este não desiste nunca. A arte no geral é assim mesmo, é como pintar um quadro, pode demorar uma vida para que alguém veja vida em seu quadro, e já tem pintores fracos, mas com grana que alugam o melhor atelier e se dão bem, enquanto outros talentosos ficam a margem do sucesso. Mas o principal motivo no geral é a grana curta e a falta de talento e amor pela grande musa: A música!

WRI - Você já atuou em alguns Estados do Brasil certo? Já fez apresentações na MTV em São Paulo, seu começo foi no Paraná e hoje é radicado no Rio de Janeiro. Você sentiu alguma diferença na atuação da Ordem dos Músicos do Brasil nesses diferentes lugares? O que você acha que poderia ser feito para melhorar a relação do músico com a Ordem?

OC - Sim, montei o Coyote Valvulado em 2001 em Londrina, mas fiquei pouco tempo por lá, e já me arranquei pro Rio de Janeiro, sabe como é no interior, você sobe no palco pra tocar só suas musicas e são poucos que entendem, a maioria prefere ouvir banda cover do led Zeppelin, o que eu também gosto, mas quando saio na rua quero ouvir som que eu nunca ouvi. Quando tocamos na MTV pecamos porque ficamos muito preocupados em tocar bem, e nem nos preocupamos com a presença e tal, mas foi legal pelo aprendizado.
Em todo Brasil a Ordem dos Musicos não faz nada pela gente. Uma vez tocando em Florianópolis os caras chegaram e como não tinha carteira queriam tomar minha gaita, sai correndo e o guitarrista da banda disse que eu estava fazendo uma participação, no outro dia os mesmos agentes retornaram no bar e lá estava eu de novo tocando, ai não teve jeito tive que dar uma gaita, mas dei uma gaita que estava quebrada...(risos) e fui embora rindo da situação, mas na verdade não sei o que deve ser feito para melhorar, pois a classe musical que vive no underground tinha que ser mais unida.

WRI - Para você qual o melhor caminho para conciliar o sustento da vida com a música independente?

OC - Você me conhece e sabe que eu trabalho na Revista Interatual, escrevo na coluna de música e monto paginas. Antes de ser musico já trabalhei numa porrada de coisas, bancário, despachante, digitador, compensador, pintor de paredes, ajudante de eletricista enfim quando morei em Santos vi que meu negocio não era ficar preso em escritório mexendo com papel ou grana que não me pertence, então abracei essa vida e virei gaitista, que trabalha de garçon que faz bico e se vira como pode. Claro que muitas pessoas me ajudaram e vem me ajudando. Fui adotado por uma família de amigos em Niterói, adotado mesmo, morei na casa da Aline uma grande amiga quase 3 anos, e chamo a Dona Lea, mãe dela de mãe e seu Péricles de pai , são pessoas que moram no meu coração, a família São Dom dom.

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Para comprar o CD entre em contato pelo e-mail: rockoswald@msn.com

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O carisma e arte de Charlie Gibson

Por Odete Marques

Vez em quando somos surpreendidos. Ocorreu comigo quando tive o privilégio de me deparar no myspace com o som de Charlie Gibson, nosso entrevistado esta semana.
Charlie é músico, compositor e experimentador de outras artes, em breve se graduará no curso de Bacharelado em Música Popular, além de participar de várias produções culturais, desenvolve um trabalho bastante influenciado pelo som das décadas de 60 e 70, mas nem por isso deixa escapar as novas tendências da música popular. Ele vai além do rock sessentista, trazendo em sua bagagem tangos, boleros, música clássica, samba, choro, oriental, jazz e eletrônica. Produziu até agora 7 álbuns, sendo o último deles intitulado Ici et Maintenant: La Pluie. Este álbum de 2009 segue o mesmo caminho de seu anterior, "London or Montreal", apresentando um pouco da arte de Charlie Gibson também para os francófonos. A arte da capa novamente foi feita por Cristiano Leão. Em seus álbuns, Charlie Gibson executou todos os instrumentos, desde os pianos, sintetizadores e teclados de palheta à guitarras, baixos, bateria e outros instrumentos menos convencionais.

WEB RÁDIO ILHA - Como a música entrou na sua vida? Você buscou sozinho, ou surgiu através de alguém especificamente? Sua família foi favorável? Como se deu a escolha do instrumento?

CHARLIE GIBSON - Aconteceu tudo muito naturalmente. Quando eu tinha uns 7 anos, ganhei de aniversário um tecladinho de brinquedo, daqueles pequeninos. Aí acabei me apaixonando pelo instrumento e tirando "de ouvido" umas canções e meus pais viram que eu tinha algum potencial. Durante a infancia e adolescência fui fazendo aulas e acabei tendo minha primeira profissão como músico acompanhante de coral (claro, sem falar nas bandinhas adolescentes). Quando terminei o segundo grau, optei por fazer Publicidade e Propaganda, mas depois de dois anos, vi que não era aquilo que queria fazer, e meus pais mesmos que me apoiaram a largar tudo e ir pra Curitiba fazer Música.

WRI - Com que idade fez sua primeira composição?

CG - Eu tinha uns 15 anos, comecei a me interessar bastante por poesia...o próximo passo foi escrever uma canção. Mas a maioria das coisas dessa época se perderam.

WRI - Explique como é o processo de criação/composição? Existem musas inspiradoras? Você compõe para alguém?

CG - Meu processo de criação é bem caótico. Não tenho um método a seguir. Às vezes eu faço a letra e busco uma melodia pra ela. Às vezes a melodia é que faz a letra...às vezes as duas vem ao mesmo tempo. O que eu faço é sentar com um instrumento, um lápis e papel (ou no computador mesmo) e ir deixando a música e o som que estiver dentro de mim me levarem. Depois eu gravo o que saiu e vou escutando pra ver o que tem que melhorar.As músicas vêm de experiencias que a gente vive, das nossas relações com outras pessoas e essas coisas, é dificil fugir disso. Quando mais novo, eu costumava ter várias musas inspiradoras, platônicas principalmente, e acabei fazendo várias canções pra elas. Com o tempo a gente acaba levando as experiências pro terreno da ficção e as músicas acabam ficando menos subjetivas. Mas eu sou um cara romântico, e ainda continuo compondo pra alguém sim. A única diferença é que agora minha musa inspiradora não é nada platônica, e meu próximo álbum (que espero em breve poder mostrar pra vocês) é totalmente dedicado a minha companheira, Laurita.

WRI - Em seus shows, como é a reação do público quando você executa uma música instrumental? Você percebe alguma diferença quando toca uma música instrumental e quando toca uma composição com letra e voz?

CG - A música instrumental tem seu estigma. Eu a vejo como uma música de difícil absorção às pessoas mais leigas, então quando se executa uma música instrumental, acaba sendo aquela coisa: música para músicos, o que é um pouco triste. Nunca tive uma reação negativa quanto às musicas instrumentais, mas é visível a preferência do público às canções. Tudo isso se deve ao fato da educação artística brasileira ser praticamente nula. É uma pena, a música instrumental deveria ser valorizada tanto quanto a canção, visto que a primeira ultrapassa as barreiras da lingua e toca direto nos sentimentos das pessoas.

WRI - Para você música é mais sentimento e menos técnica ou é mais técnica do que sentimento?

A técnica é a ferramenta do músico. É preciso dominá-la pra poder alçar vôos cada vez mais altos. Mas somente técnica sem sentimento é simplesmente masturbação musical. Geralmente é na simplicidade, mas com todo sentimento, que se encontra a beleza. Na complexidade e no virtuosismo é fácil se perder a essência da arte.

WRI - Em breve se graduará em bacharel em Música Popular. Você percebe mudanças no antes e depois desta faculdade?

CG - Amadurecí muito nesses anos e a faculdade abriu muitas portas pra eu poder desbravar a minha arte. Ela me ofereceu os caminhos para entender a arte, mas existem horas e lugares pra exercitar esse academicismo e outras horas e lugares onde apenas devo ser artista. A faculdade me deu os paradigmas, e eu, como artista, devo quebrá-los.

WRI - Como é o cenário em Curitiba para a música? Existe alguma preferência local por estilo musical?

CG - Curitiba é uma cidade em ascenção quanto às artes. Sim, ela sempre foi uma cidade muito artística, porém um tanto quanto provinciana. Devido à proximidade com as cidades mais importantes do país (especialmente São Paulo), muitos artistas a deixavam para ir buscar sonhos mais altos, e os próprios curitibanos acabavam não dando muito valor à produção local. Já hoje eu vejo um movimento contrário. A cena curitibana sempre foi muito roqueira (vide bandas famosas como Relespública, Faichecleres) mas agora vive um "boom" de diversidade. Já é possível ver muito mercado para vários estilos musicais. O Rock continua sendo muito importante, mas eu vejo no futuro Curitiba sendo um pólo musical, gerando não só rock, como mpb, música instrumental, samba, sertanejo, e até música de vanguarda para o Brasil. Temos ótimos músicos aqui, e estamos começando a ser valorizados pelos curitibanos e até pelas pessoas de fora.

WRI - Em shows você só toca músicas autorais ou faz também “cover”? Como é esta relação da música autoral com o público?

CG - Atualmente tenho feito de tudo. Faço muitos "covers" de vários estilos, mas claro que o que me deixa mais entusiasmado é fazer música autoral. Quando apresento meu trabalho acabo me sentindo muito mais gratificado, é uma sensação muito boa ver que aquelas canções que compus estão ganhando vida, e tocando o íntimo das pessoas. Me senti muito emocionado e feliz quando uma pessoa veio me cumprimentar e confessou que "Jura" a fez chorar, e lembrar de momentos importantes da sua vida. Tocar alguém desse jeito não tem preço, é uma sensação indescritívelmente ótima.

WRI - Como vc sente o mercado musical no Brasil? Existe espaço para qualquer estilo, ou você percebe uma maior aceitação de um em detrimento de outros?

CG - Como em qualquer lugar do mundo, a música acabou tornando-se uma indústria. Mas no Brasil vivemos com "modinhas", de tempos em tempos um estilo musical entra em voga, seja por uma novela ou algo que o valha. Mas o mercado para os outros estilos não definham, apenas ficam à sombra. A música independente vem ganhando um bom espaço e vejo que podemos alcançar um equilíbrio entre os vários estilos musicais, se o Brasil realmente for um país que respeita a diversidade.

WRI - Vc vive somente de música? Música para vc é assunto profissional ou é um hobbie?

CG - Sim, a música é a minha profissão. E acho que todos deveriam vê-la assim, por mais que não seja sua principal fonte de sustento. Tenho sorte de poder trabalhar com o que eu amo e vivo somente de música, toco em bandas de baile, faço arranjos, dou aulas e presto vários serviços musicais. É triste saber que ainda hoje, ser artista é sinônimo de ser vagabundo.

WRI - Em quais lugares você costuma tocar? Costuma viajar a trabalho?

CG - Os locais são os mais variados, desde teatros a bares, em eventos, em universidades, em parques. Há tempos em que viajo bastante, especialmente pelo interior do Paraná e para Santa Catarina, mas ainda espero um dia poder conhecer o Brasil todo com o meu trabalho.

WRI - Qual foi o maior dilema que você já enfrentou em relação a música?

CG - Infelizmente, ainda é difícil poder viver somente com a prórpria arte. Então acho que meu maior dilema foi ter que abdicar dos meus gostos estéticos em alguns trabalhos e transformá-los num produto, para poder viver dignamente.

WRI - Qual é o limite entre o seu gosto e o do público? Você já teve que tocar o que você não gosta ou nunca teve problemas com isso?

CG - Pois é, como já disse antes, às vezes tenho que tocar o que eu não gosto, mas acho que isso é algo que acontece em qualquer profissão. Um engenheiro que adore construir pontes vai ter que fazer prédios. Um veterinário, apesar de gostar de trabalhar com animais exóticos, vai ter que cuidar de cãezinhos de madame, não é? Com o tempo e com o reconhecimento é que vai podendo-se restringir mais ao seu gosto pessoal.

WRI - Agora falaremos sobre a valorização dos músicos. O que acha dos cachês que não são pagos pela tabela dos músicos? O que você acha da atuação da Ordem dos Músicos do Brasil (OMB)? E o Ecad?

CG - Me lembro de uma vez quando fui fazer um arranjo e por curiosidade, fui ver quanto a tabela dos músicos dizia para cobrar. É algo totalmente fora da realidade. Mas infelizmente é por que ainda hoje não se trata da música como profissão. Se alguém por mais competente que seja, for cobrar o preço da tabela, simplesmente vai receber um não, pois vai ter alguém que faz isso por hobbie e vai cobrar um terço do que seria digno. Já tive trabalhos que foram negados exatamente por isso, e foram substituidos por amadores, que tocaram por uma cerveja, ou nem isso. É uma falta de respeito. E a OMB que deveria cuidar dos nossos interesses, simplesmente não fede nem cheira. Tenho minha carteira da Ordem, mas até hoje NUNCA me foi pedido em nenhum trabalho. Nunca vi um fiscal da OMB rondando bares, para ver se as condições dos músicos estavam sendo atendidas.
Quanto ao Ecad, apesar de não ser um mar de rosas, ainda faz um trabalho um pouco mais competente. Claro, ainda tem que melhorar muito, principalmente quanto à sua organização, a fiscalização e o repasse dos direitos autorais a quem interessa, mas pelo menos ainda tem um pouco mais de autoridade do que a OMB.

WRI - Lí uma matéria publicada no jornal comunicação de UFPR em que o assunto principal era a música BREGA. Poderia nos explicar a sua relação com este estilo musical?

CG - A música brega é um grande tabu da música popular brasileira. Todo mundo conhece, mas ninguém tem coragem de dizer que gosta. E tem tantas músicas maravilhosas nesse "estilo"! Na faculdade acabei me aprofundando nesse assunto, pra tentar provar um pouco para as pessoas que não é ruim ouvir Odair José, só por que ele tem uma linguagem simples. Muito pelo contrário, é essa linguagem simples, porém bonita que anda faltando à música popular brasileira pra se tornar realmente brasileira. Não que com isso eu esteja desmerecendo Chico Buarque, Tom Jobim e os grandes artistas brasileiros. Mas esses já estão consagrados, e muita da produção musical brasileira, da década de 70 pra cá está sendo jogada para o limbo, simplesmente por que não era ouvida por uma "elite cultural", ou por que não tinha um discurso esquerdista nas entrelinhas. Pura bobagem.

WRI - Vc já teve problemas com membros de alguma banda que participou? Como é sua relação numa banda? É puramente profissional, ou vc permite uma amizade? Fale um pouco sobre seus projetos (bandas).

CG - Sempre me dei bem com membros dos grupos que participei, acho que o respeito tem que ser sempre o principal num grupo. E no fim, sempre acabamos nos tornando amigos, e nos chamando uns aos outros para outros projetos e bandas. É preciso achar um equilíbrio, claro. No trabalho em grupo é preciso por o respeito e o profissionalismo em primeiro lugar, mas depois de um show ou de um ensaio, podemos nos divertir sem problemas. Atualmente estou tocando no Projeto "Realejo é Jazz" todo domingo, fazendo clássicos do jazz e da música instrumental brasileira, numa formação de quatro músicos: piano, baixo, guitarra e bateria. E estou tocando também com a Palco Brasil Orquestra, que faz bailes e eventos. Claro, além do meu projeto autoral, onde meus amigos vem participando.

WRI - Vc é ciumento com suas composições? Permitiria que outros artistas tocassem suas músicas?

CG - Ciumento, não. Acho que a partir de quando uma composição está pronta, ela ganha vida, e precisa mais é voar. Fico sempre feliz quando alguém pede-me para tocar uma música minha, acho uma honra, e fico muito curioso pra ver como ela vai ficar na visão de outra pessoa. É sempre uma grata surpresa.

WRI - Já pensou em desistir da música alguma vez? Se sim, por quê?

CG - Várias vezes. Tem tempos que parece que a carreira de músico fica estagnada, parece que nada vai pra frente, bandas acabam, a gente leva calote de donos de bar... e a gente para e se pergunta: "pra quê continuar com tudo isso?". A última vez que isso aconteceu foi no começo desse ano, quando eu só estava tocando com o "Realejo é Jazz", e não tinha nenhuma previsão de algum outro show à vista. Tive minha companheira, a Laurita pra me dar um suporte quando pensei em largar tudo mesmo... mas, como ela mesma disse: "Não adianta eu fugir da música e ir ficar sentado num escritório 8 horas por dia e ser totalmente frustrado", e realmente é isso... pra que eu vou trabalhar com algo que com certeza se tornaria insuportável brevemente e deixar o trabalho que eu amo de verdade?
Ela me deu muita força pra poder dar uma volta por cima.

WRI - Tens um carinho especial por alguma música que compôs? Porquê?

CG - Essa é uma pergunta difícil. A "Chanson pour une petite fille" é bem especial, por causa de momentos que tenho com minha companheira ao som dela... "Jura" também, foi quando vi, pelo retorno que meus amigos deram dessa música, que eu tinha amadurecido, e me transformado num compositor de verdade. Mas no fim, todas tem alguma coisa especial, todas elas acabam sendo a "trilha sonora" de um capítulo da minha vida, então é difícil escolher uma só.

WRI - O que mais te irrita no meio musical? E o que mais te satisfaz?

CG - Com certeza, a falta de profissionalismo de alguns ditos "músicos" me deixa muito irritado. Na verdade essa é a causa da maioria das irritações que um musico tem. Acabam estigmatizando ainda mais a classe, e desvalorizam o trabalho daqueles que realmente querem fazer música a sério. A falta de união dos músicos, e os "egos inflados" de alguns também são bem irritantes. Mas tudo isso cai por terra quando você está num palco, e percebe a catarse, o olhar de satisfação, os aplausos e a felicidade do público.

WRI - Fale sobre seu ultimo álbum.

CG - "O Moderno Carnaval de Veneza" é meu quinto álbum, todos eles feitos de maneira bem independente. Gravei-o em 2007 sozinho, no meu estúdio caseiro, fiz guitarras, baixos, baterias e teclados. É um disco "conceitual", de certa forma conta uma pequena história sobre personagens conhecidos da Commedia del'Art e eternizados no Carnaval veneziano, mas numa roupagem moderna: o Pierrot, a Colombina e o Arlequim. Nessa história, o Pierrot acaba sendo deixado pela Colombina e, para se vingar, no carnaval se torna um verdadeiro "canastrão", um Arlequim...mas ao desenrolar de tudo ele acaba vendo que isso não vai torna-lo mais completo. Tudo isso em 15 músicas que vão de bossas eletrônicas a milongas, do rock ao jazz, quase como uma "trilha sonora" de uma peça que escrevi com o mesmo nome, mas ainda não tive a oportunidade de executá-la. Depois do "Moderno Carnaval..." eu acabei lançando 3 singles, com 3 músicas cada. Em "Trois Frangepédies" eu entro um pouco na área "clássica" e faço releituras das "Gymnopédies" do compositor francês Erik Satie. São três peças de piano solo bem despretensiosas. Já em "London or Montreal" eu fiz três músicas em inglês, tentando dar um ar de Rock Britânico às minhas músicas (o rock inglês é uma das minhas maiores influencias). Já no último single, de 2009, "Ici et Maintenant: La Pluie" eu exercitei um pouco meu francês, me baseando em outras influências minhas: o yé-yé francófono, Serge Gainsbourg e a chanson francesa.
Todos eles estão disponíveis pra baixar no meu site, o www.charliegibson.net

WRI - Para encerrar: deixe um conselho para quem esta começando.

CG - O caminho não é nada fácil. Dê um passo de cada vez. Sua música é o seu produto: valorize-se. Seja profissional e estude muito para ser o mais competente possível. Nunca deixe de sonhar.

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Este blog é uma base para a www.WEBRADIOILHA.com.br lá você também ouve o Charlie Gibson

sábado, 3 de outubro de 2009

Overdose de realidade

Por Paula Andrade

Existe ainda o tal do machismo? E no meio musical? Existe esta barreira a ser vencida pelas musicistas? Evidentemente, não se trata de uma pergunta com resposta pré-formulada, e sim, algo que merece uma longa reflexão.
É fato que “eles” sempre estiveram à frente no mundo da música. Podemos começar pelos nomes da música clássica, Mozart, Bethoven, Bach; passeando pelos mestres do jazz, Hancock, Milles Davis, Chalie Parker, Louis Armstrong; reis do rock, Elvis, Beatles e os Stones; grandes guitarristas, Steve Vai, Satriani, Santana; sem esquecer dos grooves históricos de Willie Dixon, Jaco Pastorius e Victor Wooten.
Quem não se espantou quando se deparou pela primeira vez com a Esperanza Spalding, líder de um grupo formado por quatro homens? Sem dúvida foi uma batalha para eles reconhecerem que ela sabe exatamente o que está fazendo. Será que o motivo disso é o fato dela ser uma mulher e ocupar uma posição normalmente de um homem? A cantora, baixista e compositora americana reponde a esta questão: "Há músicos que pensam duas vezes antes de admitir que sou uma boa baixista. Convencê-los das minhas qualidades como líder de banda é ainda mais complicado", disse Esperanza a VEJA.
Cantoras sempre foram bem-vindas, em especial quando fazem o tipo sexy, mas a mulher instrumentista corre o risco de ser rechaçada. “Elas não têm a mesma pegada”, dizem. Esta tese desaba quando se revê a história. Mas, mesmo assim, os comentários que elas ouvem continuam os mesmos. Quando têm um bom desempenho, comentam:“até que tocou bem para uma mulher”, mas se a noite é ruim: “É claro que tinha de ser uma mulher!”.
Diante da pergunta mais clichê de todas: “Qual é a sua influência?” a resposta geralmente vem acompanhada do gênero masculino, coisa que só comprova aquilo que desejamos fingir não ver. Mas já faz tempo que se escuta “agora é a vez delas!”. Será que é verdade? O que as mulheres, musicistas anônimas, acham desta afirmação?


Maria Paz, percussionista, participou de inúmeras bandas do cenário carioca, indo do jazz ao flamenco. Sua escola foi o forró, maracatú, samba de raíz, mpb (Cássia Eller principalmente), jazz, chorinho e ritmos latinos. Atualmente está se dedicando ao estudo de rítmos árabes. Busca inspiração nos artistas de rua, os anônimos, porque sempre está em busca do novo
"O machismo está presente no meio musical e muito! Embora as mulheres sejam tão capazes quanto os homens, lidamos dia-a-dia com o preconceito e discriminação de um mundo infelizmente machista, melhorado, mais ainda machista! Já aconteceu comigo algumas vezes de dizerem assim: 'Pô, legal você até que toca bem pra uma mulher!' Só é facilmente aceita quando tem um padrão de beleza extremo (risos)".


Alice Catharina, manauara, começou a tocar baixo no final do ano de 2004. Autodidata, já está atuando como contrabaixista há 5 anos. Assume o baixo nas bandas Roxie e Night Mary, ambas femininas. Com a Roxie, participou de festivais em Manaus, abrindo shows de Biquíni Cavadão, Ludov e Luxúria. A banda está com vários formatos de show e o mais novo é o formato meio acústico. Em novembro fará uma apresentação com a Roxie, no dia 14 no Imperium Vibe Fest. Vale a pena conferir o myspace da banda Roxie e ficar por dentro da agenda: Myspace da Banda Roxie
"Pelo menos aqui em Manaus quando sabem que é uma banda feminina, fazem questão da presença! Mas creio que depende da postura da banda e do tipo de som que ela resolve tocar. Tanto a Night Mary quando a Roxie, são do estilo Pop/Rock, que tem uma aceitação melhor do público. No entanto, alguns comentários pejorativos sempre fazem mesmo. Nem que seja “só por brincadeira”, mas acontece. E sempre tem aquela comparação também. “Ela toca melhor que muito homem”. Eu acredito que o momento pede uma união, pois o músico, de uma forma geral, já sofre com o preconceito da sociedade. Portanto, “todos unidos, todos ganham”. Por isso acredito que agora é a nossa vez. A vez dos Músicos"!


Aline Paixão, carioca, iniciou-se na musica com 15 anos. Seu primeiro instrumento foi o violão, depois a guitarra e mais tarde veio a se interessar pelo contrabaixo. Red Hot Chili Peppers, Ozzy, Rage Against The Machine, Lacuna Coil, Victor Wooten, Michael Jackson, Arthur Maia, Jimi Hendrix, Led Zeppelin, Metallica, Black Label Society, Glenn Hughes são algumas de suas influências. Atuou em algumas bandas como guitarrista e vocalista, Estação X e Morfina. Como baixista desempenhou alguns trabalhos com Letícia Amorim, em que se destaca o vídeo da música “Ciao” de Letícia Amorim no link:
Ver video
“O machismo existe sim, isso é um fato indiscutível! Nós crescemos e vivemos driblando esse preconceito, criando formas de ser livres dessa dominação que também está presente no meio musical. Isso acontece mais com as instrumentistas que tocam instrumentos que praticamente só tem homens tocando. Quando aparece uma mulher tocando guitarra, baixo ou bateria, pelo que já presenciei, é uma situação bastante tensa, o clima muda totalmente. As pessoas não estão acostumadas a ver mulheres liderando homens. Mas percebo uma melhora, agora temos é que aproveitar isso de forma inteligente”.


Eleonora Curi, baixista, atuou no fim da década de 60 na banda THE OFF BEATS. Atualmente é sócia de um estudio de audio e video em Niteroi, Conheça o estúdio
“Para mim fica dificil achar discriminação atualmente. Imagine o que era no final dos anos '60. Eu tocava baixo elétrico na banda "conjunto" THE OFF BEATS.Os três outros componentes eram rapazes, e ainda por cima tocavamos ROCK. Em 69 participamos do festival Caravana do Yê Yê Yê, fomos receber o premio no programa "Tio Tonka" na TV Continental, e até lá as pessoas se espantaram comigo no baixo. Nos últimos anos, as mulheres tem se destacado em todas as profissões, o que ajudou muito a diluir o preconceito. O cenário musical está repleto de musicistas, e excelentes, por sinal, mas sempre existe um "engraçadinho" metido a machista!”


Mariana Cunha, carioca de 22 anos, começou a estudar bateria com 15 anos. Devido a problemas no punho, teve que reduzir o ritmo de seus estudos, mas se diz apaixonada pelo instrumento.
Atuou por um tempo em uma banda do cenário carioca composta somente por mulheres.
“Com certeza nossa sociedade ainda herda o machismo, em vários campos, inclusive o musical. Mas o machismo vai muito de cada pessoa, tem pessoas que são e pessoas que não são. No meio musical, especificamente, acredito que o machismo seja mais ameno. Mas sempre haverá aquele que acha o diferente incapaz. Eu acredito que “a vez delas é a toda hora. Acho apenas que, nos últimos anos, nós mulheres temos tido maior confiança".



Letícia Amorim, carioca, compositora, contrabaixista e pianista, ganhou destaque dentre os baixistas do cenário brasileiro no site de Joel Moncorvo Veja o link. Iniciou-se musicalmente aos 9 anos no estudo do piano clássico por 5 anos e só mais tarde despertou o interesse pelo contrabaixo. Atuou como contrabaixista em alguns grupos de jazz entre 2004 e 2007, destaca-se o Marfig Jazz Clube que ainda esta em atividade. Com Mariane Guerra desenvolveu um trabalho autoral que chamou de Panturrilhas Severinas. Com Alessandra Barros, Marcio Figueiredo e Pestana desenvolveu o projeto autoral “Carapuça Urbana”. Em 2008 iniciou seu trabalho solo, autoral, onde toca piano e contrabaixo na música “Ciao”. Outro destaque é o polêmico jazz “Vou Cagar” que compôs em parceria com Marcio Figueiredo, onde podemos apreciar um walking bass marcante. Surpreendeu quando cantando em “Por um Triz”, todas de seu álbum autoral “No Lugas”. Podemos conferir essas e outras músicas no seu myspace: link para myspace
"Apesar de minha inocência inicial, sempre percebi gestos, olhares e comentários machistas no meio musical. Já fui alvo deste tipo de preconceito. Piadas, por mais que soassem como brincadeira sempre foram parte do dia a dia musical. Isso já me aborreceu muito, mas hoje em dia, ou acostumei ou parece que resolveram “me aceitar” (risos). Realmente existe um fator cultural e histórico muito grande. Parece coisa de outro mundo, mas bem pouco tempo atrás as mulheres nem votar votavam ... Portanto, ainda não se pode dizer que não há machismo no meio musical. É algo gradativo, mas ainda choca ver uma mulher tocar baixo ou bateria. Mas parece que estamos conquistando nosso espaço. De vez em quando ainda escuto comentários, mas isso só me dá mais vontade de seguir em frente".



Lena Ganthos, compositora carioca, violonista e cantora. Atuou em diversas bandas do cenário carioca.
Atualmente dedica-se ao seu trabalho autoral, que vocês podem conferir no YouTube: Veja video no youtube
“Olha, acho que ainda existe machismo sim, mas
é bem menos que antigamente. Digo isso por experiência própria, pois viví isso com uma banda de rock de Nova Iguaçu nos anos 80, formada só por homens. Acho também que existe uma questão cultural nessa história: "guitarra é instrumento para homens" e "piano para mulheres" blá blá blá. Quantos homens já mostraram talentos divinos pro piano e mulheres pra guitarra? Isso tudo é ridículo e vai cair com o tempo, tenho certeza disso. Tocar um instrumento ainda vai, mas compor é forte demais pra cabeça dos retrógados machistas. O talento não depende de beleza, nem de idade e muito menos do sexo da pessoa. Quando ele tem que vir ele vem logo e pronto, nao tem explicação”

Menos é Miles!


Por Marco Bz

Não faz muito tempo. Eu me vi em um dia desses em que você acorda meio lento, tudo está devagar, você se sente relax e tal, uma onda meio slowrider! Opa!!! Easy,easy... hum... Mas, voltando para a realidade, era um dia mais pra Dorival Caymmi mesmo, onde tudo que você desejaria naquele momento se resumiria em sombra paradisíaca (diga-se de passagem) e água fresca (de coqueiro anão pra não ter stress)!
Mas pra falar a verdade, fiquei no sofá de casa esparramado, zapeando a TV que nem um louco, olhando para o nada com aquela cara de paisagem. Sabe como é? Naquele sublime momento veio na minha cabeça mais um sábio ditado popular: "Porra, caralho, até para fazer sexo dá trabalho!!” Para aprofundar mais a questão, surgiu outro ditado do cancioneiro popular : "Gosto é que nem cunhado...cada um tem o seu!" Eu estava tão mergulhado em um Piscinão de Ramos de milenar sabedoria oriental naquela hora que pensei na questão de às vezes não gostarmos das coisas por não entendermos aquilo que nos deparamos de primeira.
Eu odiava matemática! Só gostava quando conseguia entender a questão e quando tinha a resposta certa nas mãos (era raro!). História só se tornava realmente interessante no momento em que eu entendia o contexto dos fatos e me transportava para o lugar que estava estudando e, assim... caía a ficha!! Vai me dizer que um moleque de 10 ou 12 anos que gosta de música vai parar para escutar um tedioso bolero das antas, quer dizer, das antigas!? Que nada!! Ele vai cair para o rock. E aquele vinil antológico de jazz da mamãe continuará pegando um pouco mais de poeira até um futuro bem próximo. E aí, onde o mesmo moleque já consegue entender um monte de fatos da vida, inclusive o som esquisito que saía da vitrolinha quando aquele disco estranho com gente esquisita começava a rodar!
É camarada... Menos é Miles!