sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Coyote Valvulado lança CD - Papo com Oswaldo Coyote

Por Marcio Figueiredo


Um lamento é expresso de diversas maneiras no mundo. Gritos e choros são muitas vezes a única expressão possível para demonstrar tal sentimento. Há porém aqueles que esbravejam diante de injustiças, o lamento então, é também reenvindicação, clamor e luta. Dentre tantas possibilidades, a música é talvez a mais comum entre as formas artísticas de se dizer o que pensa. Mesmo sem palavras, um solo de gaita ou uma linha de baixo, dizem tantas alegrias ou tristezas quanto um uivo de coiote na colina, contrastando à lua cheia enorme no horizonte.
Na música, não é possível falar de lamentos sem mencionar o blues, nem tão pouco da luta sem falar do rock. Essa mistura traz desabafo, satisfação, vômito, carisma e alegria, fruto de uma transformação química que muitas vezes começa como dor e lamento.
No Brasil a receita é perfeita, e mesmo que tal transmutação seja possível em qualquer ritmo, foi de fato no rock blues que a banda Coyote Valvulado encontrou sua expressão musical mais sincera. As letras falam da herança cármica do Brasil, festas de fevereiro, vontades e desejos, sob a ótica de um ser que lembra Frankstein, ou o mascote dele, um ciborgue urbano, com olhar também otimista, que consegue enxergar anjos encarnados, meninas ousadas e vendedores de sonhos, afinal não é só de lamento que se uiva um COYOTE.
Conheça um pouco mais sobre a banda e o vocalista e gaitista Oswaldo Coyote.

Web Radio Ilha - Soube que a ‘gestação’ do CD durou bastante tempo. Pode nos contar um pouco quais foram as dificuldades dessa produção?

Oswaldo Coyote – Ganhamos uma gravação profissional no Studio 21 na barra, e começamos a gravação em julho de 2007. No meio da gravação do disco o Nando Black nosso guitarra avisou que ia deixar a banda, ai deu um baixo astral, mas o cara gravou a maior parte das guitarras e terminou o trabalho. Na época estava morando em Niterói então o processo da banda ir gravar demorou uns três meses. Depois de gravado estava procurando um selo ou uma distribuidora para o disco, e o maior objetivo era mixar bem o disco e produzir. Foi ai que em 2008 assinei com a Astronauta Records e em parceria com o Bruno Marcos da Tomba Records fizemos a produção do cd que levou de fevereiro de 2009 até julho. Ai começou a captação de recursos para prensagem, enfim o disco chegou agora em setembro.

WRI - Criar letras em português é para muitos uma grande dificuldade que você parece não ter. Neste CD, cada música parece um lamento diferente de um Coyote humanizado com um cérebro valvulado implantado, que chega a cidade grande e começa ter impressões e sentimentos urbanos. Lógico que isso é uma impressão minha e é fruto de uma fantasia que sugere o próprio encarte. Qual foi enfim, a maior inspiração para as letras do CD?

OC – É isso mesmo, um coyote cyborg urbanoide que após ser implatada as válvulas ele ganha a metrópole com seu uivo que transmite vários sentimentos. Essas letras já são antigas, algumas já foram feitas há dez anos, no começo de carreira lá em Londrina quando tocava com outra banda, e as letras como ‘dentro da cabeça do homem’, ‘livre quem será’ e ‘anjo de vidro’ são safras antigas que eu queria muito registrar com essa banda que montei com vários músicos que tem alma rock, como meus parceiros Karlituz Rodrigues que é de Brasília e é outro coyote calango que invadiu o rio com seu Contrabaixo, Marcelo Nestler, um grande guitarrista e ainda Ewerton Gama o novo batera que manda muito bem. Na faixa 3 que é ‘fora do tempo’, é a faixa mais tensa do disco, escrevi num dia de carnaval, esses dias que você não tem um puto no bolso e fica vendo toda aquela sacanagem do carnaval e aí escrevi aquela letra, acho ela bem revoltadinha. (risos)

WRI - O CD Coyote Valvulado é repleto de rocks com linguagens de blues urbano, elétrico. Como você vê o cenário atualmente desse estilo? Acha que existe a possibilidade desse gênero crescer ainda mais?

OC - Acredito que o rock blues do Brasil é muito rico, e como você disse na outra pergunta, escrever letras em português não só para o rock como para a música no geral, não que seja difícil, mas existe muita forçassão de barra, pessoas que não escrevem nada e querem compor, não estou julgando, mas falando o que acho. Mas o cenário é difícil para todos os ritmos e acredito na luta individual do artista.

WRI - Sabemos que fazer rock’n’blues no Brasil é uma certeza de que sua visibilidade na mídia será limitada. Isso já te fez pensar em algum momento na sua carreira, em mudar, mesclar ou adaptar outros ritmos a sua música? Percebo que nas faixas “Dentro da cabeça do homem” e “Jagunço de tocaia” essa adaptação já começa. Você acha isso possa virar uma tendência em seu trabalho no futuro?

OC - Com certeza! Sou roqueiro mas amo música brasileira, e pra falar a verdade já tenho algumas musicas para o segundo disco prontas, músicas loucas, com refrão a la Black Sabbath e quando entra a música mesmo é um funk anos 70 estilo Tim Maia. Dentro da cabeça do homem tem uma parte com elementos de samba que eu gosto muito, e você sacou bem essa mistura que o coyote valvulado faz, mas veja bem, eu não fico na hora de compor achando que tem que ser feita uma mistura, porque o rock por si só ele não precisa de nenhuma mistura, ele é como droga boa, já vem forte...(risos). Tenho certeza que nosso segundo disco tem tudo para superar o primeiro.

WRI - Falando mais sobre o cotidiano do músico. Trabalhar com música no Brasil durante muito tempo é sinal de perseverança. Além da paixão pela música (que é óbvio), o que mais te motiva para continuar nesse meio tão difícil?

OC - Comprei um contrabaixo quando tinha 23 anos e vendi numa sexta feira para ter grana para curtir, na segunda a depressão por ter vendido foi bem grande, passou um tempo e apareceu a gaita, acho que é o instrumento que te escolhe, pelo menos comigo
foi assim. E quando saí de cima do muro e abracei a música eu já sabia pois não era mais moleque. Música no Brasil é como o Hermeto Pascoal falou, não é profissão, é devoção. O cara tem que saber que ele pode se dar bem, mas também o tempo pode passar e você chegar aos cinqüenta totalmente sem grana, sem casa pra morar e tudo que aflige uma sociedade normal. E o que me faz continuar é a pergunta que eu faço para mim todos os dias: Será que nasci pra isso? Então peço pra meu Deus me avisar, e ele vem fazendo isso, através de sonhos e certezas que um artista busca em sua vida. E claro o grande tesão que tenho em compor em parceiras e tocar minha Gaita que amo tanto.

WRI - Para você qual o principal motivo de desistência de uma carreira musical no Brasil?

OC - Conheço e conheci muito músicos que desistiram, quando viram que a pica é grossa, competitividade e muitas bandas e tal. Mas acredito que o músico de alma, é aquele que já tentou de tudo na vida, mas tudo que lhe resta é sempre tocar, este não desiste nunca. A arte no geral é assim mesmo, é como pintar um quadro, pode demorar uma vida para que alguém veja vida em seu quadro, e já tem pintores fracos, mas com grana que alugam o melhor atelier e se dão bem, enquanto outros talentosos ficam a margem do sucesso. Mas o principal motivo no geral é a grana curta e a falta de talento e amor pela grande musa: A música!

WRI - Você já atuou em alguns Estados do Brasil certo? Já fez apresentações na MTV em São Paulo, seu começo foi no Paraná e hoje é radicado no Rio de Janeiro. Você sentiu alguma diferença na atuação da Ordem dos Músicos do Brasil nesses diferentes lugares? O que você acha que poderia ser feito para melhorar a relação do músico com a Ordem?

OC - Sim, montei o Coyote Valvulado em 2001 em Londrina, mas fiquei pouco tempo por lá, e já me arranquei pro Rio de Janeiro, sabe como é no interior, você sobe no palco pra tocar só suas musicas e são poucos que entendem, a maioria prefere ouvir banda cover do led Zeppelin, o que eu também gosto, mas quando saio na rua quero ouvir som que eu nunca ouvi. Quando tocamos na MTV pecamos porque ficamos muito preocupados em tocar bem, e nem nos preocupamos com a presença e tal, mas foi legal pelo aprendizado.
Em todo Brasil a Ordem dos Musicos não faz nada pela gente. Uma vez tocando em Florianópolis os caras chegaram e como não tinha carteira queriam tomar minha gaita, sai correndo e o guitarrista da banda disse que eu estava fazendo uma participação, no outro dia os mesmos agentes retornaram no bar e lá estava eu de novo tocando, ai não teve jeito tive que dar uma gaita, mas dei uma gaita que estava quebrada...(risos) e fui embora rindo da situação, mas na verdade não sei o que deve ser feito para melhorar, pois a classe musical que vive no underground tinha que ser mais unida.

WRI - Para você qual o melhor caminho para conciliar o sustento da vida com a música independente?

OC - Você me conhece e sabe que eu trabalho na Revista Interatual, escrevo na coluna de música e monto paginas. Antes de ser musico já trabalhei numa porrada de coisas, bancário, despachante, digitador, compensador, pintor de paredes, ajudante de eletricista enfim quando morei em Santos vi que meu negocio não era ficar preso em escritório mexendo com papel ou grana que não me pertence, então abracei essa vida e virei gaitista, que trabalha de garçon que faz bico e se vira como pode. Claro que muitas pessoas me ajudaram e vem me ajudando. Fui adotado por uma família de amigos em Niterói, adotado mesmo, morei na casa da Aline uma grande amiga quase 3 anos, e chamo a Dona Lea, mãe dela de mãe e seu Péricles de pai , são pessoas que moram no meu coração, a família São Dom dom.

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Para comprar o CD entre em contato pelo e-mail: rockoswald@msn.com

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